terça-feira, 10 de agosto de 2010




Falando sem formalidades....

São incontáveis as aventuras que você passa no Egito.  Cada dia é uma surpresa!  Se você acha algo impossível acontecer, lá com certeza é absolutamente normal:

1)  Esta viagem foi feita exatamente no momento em que o Brasil estava nas finais da Copa do Mundo 2002.  Por onde passávamos, é claro, quando tínhamos algum sinal que denotava nossa nacionalidade, os egípcios falavam alto no meio da rua: "Brasillll... Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos..." e então desfilavam toda a escalação de nossa seleção.  Eles adoram o futebol do Brasil. 
Quando vendiam para nós, falavam:  "Vou fazer preço bom,... não por você,... nem por mim,... mas pelo Brasil!"  Isso virou um jargão em todas as lojas.  Parece que eles estudaram esta frase na mesma escola.  A moeda do Egito é a libra egípcia.  Conhecida como POUNDS.
2) Procurando por galabias (túnicas) no mercado Khan el Khalili, pensei em levar de presente para Maya (minha filha mais nova), aqueles lenços com pom-pom colorido, especiais para dança Meleah Laf.  Entrei em uma das centenas de lojas que se amontoam, umas sobre as outras, naquele labirinto delicioso.  O sujeito que me atendeu era tão convincente que acabou me mostrando, além das galabias, abays de todos os tamanhos e cores, e tantos lenços de cabeça, que eu precisaria de um harém lotado para presentear tudo aquilo.  O resultado é que fiz uma pilha com mais ou menos 80 peças para vestir nossas recepcionistas e caixas, algumas peças para mim, e assim por diante. 
O engraçado é que na hora de fazer a conta, fizemos rápido de cabeça e depois de toda aquela tradicional barganha, chegamos à 30% do preço.  Quando ele passou a mão numa calculadora dessas comuns, que vendem em faróis no Brasil, começou a fazer a conta, e vai somando, somando, de repente a calculadora começou a falhar... Ele deu um tapa nela!  Falhou de novo!  Deu outro tapa, continuou falhando!  Colocou a calculadora na mesa, e desta vez, deu um murro nela...  Como ela não funcionava de jeito nenhum, pegou-a na mão e deu-lhe um último tapa, e pasmem... uma cusparada no teclado, isso mesmo, cuspiu uma quantidade que cobriu uns oito números.  Coincidentemente, a calculadora começou a funcionar de novo.  Aquele nojo!  Ele mostra a calculadora para mim e pergunta: "Agora deu certo, quer conferir você mesmo?"  Peguei o dinheiro, coloquei no balcão: "Não obrigado... foi um prazer fazer negócios com você!"  Peguei aquele montão de sacolas e.... tchaaau!
3) Indo para o mercado, tinha que passar sobre uma passarela de pedestres que une os dois lados do Khan el Khalili.  Uma sujeira só!  Você bem imagina como é o caminho e o chão de uma passarela que recebe milhares de pessoas todos os dias. 
Pois bem, ia a minha frente um sujeito, carregando sobre a cabeça, um tablado aberto com uma pilha de pães (aquelas roscas caque); descendo a passarela ele tropeçou e caíram uns 15 pães no chão.  Eu estava logo atrás e pensei... "vou chutar tudo para o canto".  O chão tem aquela poeira e sujeira de 1000 anos.  Napoleão Bonaparte passou naquela passarela ... (risos).  Sabe o que aconteceu então?  Você não vai acreditar: 
Ele flexionou os joelhos, veio um menininho, catou tudo do chão, sujo mesmo, e recolocou no tablado; eu parei, observei, e claro, não acreditei naquilo, tanto quanto você.  E ele... saiu andando de novo a passos largos, com aqueles pães para entregar em algum lugar.
4) Barganhando numa loja de lustres, achei dois lindos, com vitrais coloridos, que fizeram meu coração bater mais forte.  Perguntei:

- "Quanto custa este aqui?"
- "Custa 380 pounds (equivalente à 70 dolares)".
  
- "Preciso dois, quanto você me faz?" - Fez as contas numa calculadora e falou:
- "Dois ficam 760 pounds, mas faço para você por 650."  - Então arrisquei:
- "Pago 300 pounds nos dois!"  - Pensei... "agora em vai me "cobrir de bolachas", isso foi uma afronta!" - E ele falou:
- "Você quer ver meu emprego no fundo do Nilo?  Máximo 600 pounds os dois"  -  Insisti em 300 pounds.
- "Melhor preço agora... 560".  -  Crente ele, que agora eu fosse fechar o negócio.
- "Vou dar uma volta, mais tarde eu passo aqui"  -  falei então.
- "Tá bom, nem 560, nem 300; último preço para você,.. não por mim, não por você, pelo Brasil: 480!  Senta, toma uma Coca-Cola" - e apareceu um outro com uma garrafa prontinha para eu beber.
- "Habib, meu último preço é 300 pounds!" -  Abri minha bolsa, e tirei três notas de 100 pounds e coloquei sobre a mesa. -  "Uma, duas e três... É pegar ou largar!"
- "Tira mais dinheiro desta bolsa, habib!"  -  falou-me rindo, como quem diz "tem muito mais de onde estas saíram; cutuca aí, vai!".
- "Lá!" -  falei taxativamente no meu árabe ("lá", quer dizer, não, em árabe!)
- "Tira mais uma nota de cem.  Faz 400 prá você!"  -  Aí eu cansei... e falei cantando:
- "Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lheee...." - com eloquência apontando para o dinheiro que estava sobre a mesa, fazendo como quem vai pegar e colocar de novo na bolsa...
Ele pulou em cima do dinheiro, apanhou com as duas mãos, colocou-o para o alto, beijou-o, e disse:
- "Alah Seja-Louvado!"  -  em seguida, fez um gesto com a mão, como quem diz:
- "Leva,... são seus!"
Ambos ficamos satisfeitos, pode ter certeza!  Ao sair da loja, olhei uma cortina bem interessante para dividir ambientes, e perguntei...
- "Quanto está esta cortina?  Preciso de duas!"  -  E ele respondeu:
- "380 pounds cada uma"  -  Morrendo de rir, eu falei para ele...
- "Pago 300 pounds nas duas!" -  Ele me olhou e começou a rir também.  Ia começar tudo de novo!
- "Deixa prá lá, outra hora eu volto!" - falei rindo.
- "Se você levar as duas, eu faço 650 pounds"
Passei a mão nos pacotes dos lustres, e saí correndo... Deus me livre!


5) Quando fui comprar cartão telefônico para ligar para o Brasil, perguntei: "Quanto custa?".  E o sujeito do mercadinho, sentado num banquinho, mal olhando no meu rosto, respondeu:
- "Srí mínitis, Çârdi pounds!"
- "Olhei para as meninas que me acompanhavam e ri... "não entendi nada do que ele falou".  E elas: "nem eu!"  -  Arrisquei de novo:
- "Quanto você falou que é o preço?"
"It´s Inglich, mafrend, sri mínitis, çârdi paunds!  Tem, tuênti, çârdi...çârdi paunds!"  -  Aí é que eu entendi o inglês dele: "three minutes, thirty pounds (três minutos, 30 pounds! - em inglês)".  Morremos de rir e aquilo virou piada para o resto da viagem, onde íamos, brincávamos de "çârdi paunds!"
6) E o motorista de táxi, então?  Aquele carro russo, veeelho!  Correndo, feito louco pelas ruas, me levando para o Khan el Khalili, entrou num engarrafamento, e pela pista da direita, que estava mais livre, saiu batendo nos espelhos retrovisores dos carros estacionados: "pem"... quebrou um... "pem", quebrou outro, "pem", outro e "pem, pem, pem, pem...mais outros... e assim foram uns oito espelhos.  Eu no banco de trás, faltei comer os meus dedos.  Criei coragem e falei em inglês: "Você não gosta muito de espelhos, não é mesmo?"  Ele riu e falou num tom de gozação: "Assim eles aprendem a estacionar direito!"  Desci três quadras depois.  Eu heim?
7) Em Luxor, pegamos uma feluca (uma espécie de jangada egípcia), e fomos navegar no Nilo. 
Uma delícia.  Um silêncio total, e nós todos, naquele sol sobre o Rio Nilo. Todos, tiramos os calçados e colocamos os pés na água.  O que era aquilo?  Que emoção, que sensação!  Que paisagem maravilhosa dos dois lados: de um víamos a cidade de Luxor, do outro um oásis e ao fundo as montanhas do deserto.  Estávamos em 17 pessoas, neste dia.  Foi um dos pontos altos da viagem.
Dois moços núbios conduziam a feluca (idade aproximada de uns 20 a 25 anos).  Quando viram aquele "monte de mulheres brasileiras", já começaram a se engraçar.  Começaram a cantar, batucando no casco e queriam que elas dançassem a todo custo. 

Eu, como já vi este filme antes, falava em português, sorrindo para eles: "Segura o pito aí, geeente!  Não dança não, porque se uma de vocês levantar, eles vão ficar muito assanhadinhos, e aí, acabou o sossego desse Nilo".  Dito e feito, as poucas vezes que elas ensaiaram algum movimento com os braços, eles ficaram loucos, atiçados para pular na frente e sair dançando com elas. 
Aqueles pescadores, tentaram seduzir de todas as formas as meninas para dançar, ligaram um rádio enorme, puseram um CD com música bem alto, cantaram, batucaram de todas as formas, mas elas conseguiram se controlar.  Um dos grandes problemas é que quando uma mulher sorri para um homem no Egito, para eles já quer dizer "outra coisa", entende?  Daí para um "grude", é um passinho.  Terminado o passeio, após uma hora e meia sobre o Nilo, ao descer, fizeram questão de dar as mãos para cada uma das meninas e ajudá-las a descer da feluca.  Claro, esperando ganhar uma gorjeta de cada uma.  Ficaram bronqueados porque nenhuma deu nem um pound!  Devem ter pensado: "Essas brasileiras, mãos-de-camelo!" (no Brasil, seriam "mãos-de-vaca"!).
8) No banheiro das mulheres do aeroporto de Luxor, quase que improvisado, existem algumas cabines.  E por incrível que pareça, dois meninos ficam dentro dos banheiros delas, dando papel para elas "enxugarem as mãos" e ganhar gorjeta.  Você consegue imaginar um emprego destes?  Um homem dentro do banheiro das mulheres, dando papel para elas? 
9) O Cairo é a cidade mais moderna do Egito.  Muita gente veste-se normalmente, ao padrão europeu.  Grande parte da população ainda veste-se com túnicas.  Mas nas cidades do interior, Luxor por exemplo, TODOS vestem-se com os trajes tradicionais.  Os homens com suas galabias e turbantes e as mulheres todas de preto.  É incrível, mas lá as moscas são teimosas e lentas.  Elas pousam em você ... e não saem!  Grudam e ficam passeando na sua pele, até você dar um tapa.  Estava eu numa loja, falando com a vendedora de um produto e um mosquito pousou no rosto dela.  Pergunta daqui, pergunta dali, e a mosca passeava no nariz dela, próxima aos olhos, vinha perto da boca... e ela, falando comigo...  Num determinado momento, fiquei extremamente incomodado: "Essa mosca... não te perturba?"  E ela falou:  "Que mosca?"
10) Por falar nisso, no caminho para o Vale das Rainhas, naquele sol de 42 graus, o ônibus para, a mais ou menos, um kilometro do local do monumento.  A gente vai a pé... naquele calor, chega lá cosido! 
Se você não coloca algo sobre a cabeça, o risco de insolação é grande.  Tem moscas teimosas demais.  Gruuudam!  É um inferno!  Num momento, alguma voz me falou, "feche a boca".  A mosca bateu em meus lábios.  Dei um tapa e ela "foi para o espaço".  Por pouco eu não a engulo!  Já pensou?  Uma das meninas, sem querer, engoliu!  Argh!
11) Dentro das tumbas, do Vale dos Reis (incrível, você entra a uns 150/200 metros, em corredores de 3x4 metros, dentro da terra, indo fundo e parece que tem ar condicionado, mas não tem nada.  É arejado e as paredes são todas decoradas, contando em hieróglifos a história de cada faraó.   São 65 tumbas encontradas até agora.  E cada vez acham mais.  Para você ter uma idéia, eles escavam uma tumba, e dão de cara com o caminho para outra. 
Este Vale é riquíssimo!  Milhares de tesouros permanecem nos escombros destas montanhas.  Você olha, parece uma montanha totalmente deserta, no meio de um calor quase que insuportável.  É um manancial de tumbas que ainda vão levar centenas de anos para serem encontradas.  Eram aqui que enterravam os Reis.  Faraós de todas as dinastias!  Para chegar às tumbas, um trenzinho faz o percurso de quase 1 km.
Centenas de policiais fortemente armados guardam o local.  Ramsés teve quase 300 filhos.  Acharam só 11 tumbas dos filhos dele por lá, até agora.  Imagine o que pode ter naquele Vale.  Ali acha-se a tumba, onde foi encontrado o tesouro de Tutancamôn.  Mas o caso não é esse... com o seu ingresso, você tem direito a entrar em até três tumbas.  E em cada tumba tem dois egípcios com galabia e turbante tomando conta.  Trabalham e ficam o dia inteiro lá, um na porta de entrada, outro lá dentro; uma forma de coibir vandalismo nas paredes, evitar o uso de flashes das câmeras. 
Um deles falou em árabe para a guia, logo na entrada: "Proibido FALAR aqui dentro!  Não pode dar nem uma palavra".  A nossa guia egípcia, ficou louca e começou a discutir feio com ele, em árabe.  Gritaram muito, durante cinco minutos.  Ele de um lado, e ela do outro!  Falavam rápido e nervosamente.  Parecia até que eles iam se atracar.  Mais tarde, ela explicou que o motivo de não poder falar, era segundo ele, que "prejudicaria as pinturas das paredes".  Segundo ela, ele estava com problemas demais em casa, e não estava querendo ouvir a voz das pessoas, principalmente de guias explicando as pinturas das paredes!  Não queria se irritar com vozes... tinha que pensar na vida e nas palavras do profeta.  Tem dessas excentricidades...
12)  E o sujeito não queria trocar meu boné da Casa de Chá por um arguile lindo? 
Eu não sou muito chegado em arguile (gosto para decoração, só!);  acho que tenho uma questão sentimental com aquele boné, pois já viajei muito com ele.  Recusei.  Ele insistiu muito, mesmo!  Aí queria incluir fumo e carvão também para eu trocar. 
Não adiantou, não me convenceu!  "Então você tem que me trazer uma lembrança do Brasil, qualquer coisa para mim!"  Pensei comigo: "Devia ter comprado uma dúzia de camisetas da seleção brasileira escritas RONALDO na 25 de Março, por "dérreal" cada uma, antes de viajar".  Daria para trocar por um container de mercadorias no Cairo.  Eles estavam ensandecidos por qualquer coisa que fosse do Brasil. 
Outro queria me dar um papiro enorme por uma camiseta que tinha a bandeirinha do Brasil no peito.  Não troquei pois teria que sair sem camiseta pelo Khan el Khalili afora.  Lá, isso não existe!
13) Numa 6a. feira, cruzei com algumas meninas do nosso grupo, sentadas na calçada, dizendo que estavam esperando o moço na loja para atender a compra que elas já tinham feito.  Perguntei: "E cadê ele?"  Responderam elas: "Foi rezar, volta daqui a uns 40 minutos e a gente tá aqui esperando!"  Isso mesmo, na hora da reza, nem negócio eles fazem.  Param tudo, estendem seu tapetinho e o negócio é esperar.
14) Dentro do Museu do Cairo não se pode fotografar com flash.  É uma questão de conservação das peças.  É um lugar maravilhoso.  Emocionante!  Se você ficar 30 dias, não conseguirá ver tudo.  Resolvi passear sozinho uma tarde por lá, pois o Hotel onde estávamos, era do outro lado da Avenida. 
Atravessei a rua e fui, com minha câmera pendurada no pescoço.  Na entrada, tem um exército como segurança, e passa-se por todos os tipos de revistas dos guardas e detectores de metal.  Me pararam e começaram a conversar... quando vi, tinham uns 6 guardas conversando comigo, querendo saber tudo sobre a nossa seleção.  Perdidamente apaixonados pelo nosso futebol...  Não tinha hora para acabar o papo, conversei um pouco, pedi licença e entrei no museu.  Diversos grupos de turistas com seus guias, explicando cada peça gigantesca.  Tinha um grupo de mais ou menos 50 pessoas vendo uma tumba enorme, toda desenhada e colorida com hieróglifos.  Fiquei de lado, apontei minha câmera e cliquei... esqueci que oflash estava ligado.  PISCOU!  Que carão! 
Os 50 turistas viraram a cabeça lentamente para olhar "quem foi o subdesenvolvido, ignorante e analfabeto" que acabara de contribuir para prejudicar aquela peça, relíquia da humanidade.  Me senti diminuindo, diminuindo... acho que fiquei do tamanho de uma ameba.  Para dar uma de desentendido, disfarçar, fiquei olhando para a câmera, como quem diz: "Onde já se viu, estava ligado!  Será que está com algum defeito?".  Não funcionou!  Aí já apareceu um administrador para me repreender, falou muito pegou minha câmera nas mãos e disse que se eu fizesse de novo, me tiraria a câmera; e em seguida, veio um guarda com metralhadora em punho, ver o por quê de eu ter feito aquilo.  Crime total!  E eu, com a camiseta do Brasil, que vergonha, para nosso país...  Meu rabinho já estava entre as pernas, me sentia a última das criaturas!  Daí para frente, fiquei traumatizado... todas as vezes que ia tirar uma foto, certificava-me se o flash estava desligado. 
Me senti aquelas criaturas que comem dentro do carro e jogam uma casca de frutas e a latinha do refrigerante pela janela, no meio da avenida.
15)  Na hora de andar nos camelos que ficavam próximos às Pirâmides, o cameleiro falou:  "Senhor Brasil, você tem Euro aí?" (o Euro, - a moeda européia - começava a valer mais do que o dólar naqueles dias). 
Andando no camelo, me fingi de desentendido: "Ah... 10 pounds para andar neste camelo?" (é tabelado; não podem cobrar mais que isso!) E ele retornou, falando num inglês bem fraco: "Você não entendeu?  Quero Euro" (cá entre nós: eu também quero!).   E insistiu para eu dar minha máquina para tirar fotos minhas no camelo... "Vou tirar fotos suas no meu camelo, não por mim, não por você, pelo Brasil...".  Tirou três fotos e me devolveu a máquina. 
Começou a me levar para um lugar mais distante, puxando as rédeas do camelo.  Comecei a ficar desconfiado, mas como já conheço o esquema... Uns 80 metros adiante, virou para mim e falou: "Agora paga, pode pagar!"  Eu, lá em cima, quase três metros do chão falei: "Só pago quando voltar!"  E ele começou a gritar: "Paga, paga, paga!!!"  e eu, virando para um Jeep da polícia (200 metros dalí), comecei a gritar: "Polícia... polííííícia...".  Na hora... ele mudou o discurso: "Está gostando do passeio nas Pirâmides Sr. Brazil?  Vamos voltar então... o camelo está cansado!  Você é o Sr. Brasil, e eu, amo o Brasil!  Ronaldo, Rivaldo..." (molestar, de qualquer forma turistas no Egito, dá cadeia). Voltamos, ele parou, abaixou o camelo, eu desci, paguei os 10 pounds, e sem ressentimento... da velha... amizade! 
16) No Egito, 90% dos homens chamam-se "Mohamed" em homenagem ao profeta do Alcorão.  Tinha conhecido um taxista muito legal, que se chamava Mohamed no dia anterior.  Ele ficava na frente do Hotel juntamente com uns outros 30 taxistas, esperando os hóspedes para fazer as corridas.  Naquela manhã, ao sair, pedi ao porteiro do Hilton que me chamasse um táxi, só que eu queria que fosse o Sr. Mohamed.  Ele me olhou e riu...  Gritou para o outro lado da rua para os taxistas: MOHAMED.  Vieram 9!  E mesmo assim, nenhum deles era ele!  Entendi a risadinha dele... se tivesse um balãozinho sobre a cabeça dele, estaria escrito: "Seu ignorante!  O país inteiro chama-se Mohamed". 
17) Numa das paradas do ônibus, em um dos passeios, os guias acabam levando a gente para uma loja de essências (aqueles perfumes em extrato);  entra todo mundo numa grande sala, cheia de perfumes e o sujeito começa a fazer uma explanação, juntamente com mais dois ou três auxiliares; faz um longo discurso das fragrâncias que eles tem.  Entrega uma lista com uns 50 nomes. 
Fala como colhem as flores, preparam as pétalas e fazem os perfumes; demonstram como dissolver as essências em álcool, passam perfume em todo mundo, servem Coca-Cola ou karkadeh (chá egípcio tradicionalíssimo!), e ficam cheios de gracinhas com as moças.  Aí... mostram duas fragrâncias, uma para homens, chamada TUTANCAMÔN, e outra para mulheres, que não me recordo o nome.  Diz que o homem que usa aquele perfume, angaria e atrai para si, todas as mulheres que desejar... (papo furado!).  Veio e pegou meu braço, um dos únicos homens do grupo, e passou o perfume.  Disse que em minutos todas perceberiam isso!  Já me sentia um astro de Hollywood!  Tooodo poderoso!  Era tão forte, tão forte, que depois ninguém conseguia ficar perto de mim no ônibus.  Não sei que estranho conceito de sedução é esse, mas acho que se as mulheres pudessem me colocar para fora do ônibus... elas preferiam!

18) E na galeria onde vendem e fabricam os papiros?  ... Essa foi demais!  Uma loja imensa, dispondo de um rico e variado show roomde papiros na Gizah, bairro próximo às Pirâmides.  Centenas de papiros nas paredes.  Fotografei vários deles. 
Perguntei o preço dos três maiores papiros da loja.  A vendedora, percebendo o valor da venda, falou "um momento que vou chamar a "manager" (administradora)".  Lá veio em seguida, uma egípcia, olhos negros, bem vestida, lenço enrolado na cabeça, muito bonita por sinal.  Falou o preço dos papiros, já com o desconto que poderia conceder e perguntou-me:  "Você é o "manager" do grupo?"  Respondi: "mais ou menos, no Brasil, eu sou "manager", aqui estou acompanhando este grupo como turista".  Olhando-me nos olhos, de forma penetrante, falou diretamente: "Me leva para o Brasil com você... posso ser sua "manager" em seu negócio!".  Pensei comigo: "Meu Deus... primeira vez que vejo uma cantada egípcia!"  E ficou esperando a resposta com um meio-sorriso estampado no rosto;  Confesso que me pegou de surpresa!  Sorri e falei... "Você não tem idéia da "manager" que eu tenho por lá!  Desculpe-me, já tenho uma excelente equipe formada!"  Conclui: "Vou pensar sobre os papiros, e quem sabe, eu volte esta semana!"  E saí.  Ela ficou me olhando, até o momento em que saí e fechei a porta, deixando a loja.
19) Havia fotografado os papiros que gostei com a câmera digital.  Sonhara com eles naquela noite no Hotel.  Virou obsessão.  Precisava deles para ser feliz!  Mas não queria voltar àquela loja da Gizah.  O assédio havia me deixado incomodado.  No domingo cedo, resolvi procurar no Khan el Khalili a melhor galeria de papiros.  Encontrei!  Serviram-me Coca-Cola (dá até impressão que estou fazendo merchandising, não é mesmo?).  Entrei e mostrei ao vendedor, muito atencioso, a imagem dos papiros que procurava, e com o zoom da câmera, vimos a assinatura dos artistas que pintaram cada um deles. 
Resultado:  comprei os três mesmos papiros, com as respectivas assinaturas de cada um, por um quinto do preço.  Isso mesmo!  Aquela egípcia safada, com toda aquela cantada direta e reta, querendo me vender, por cinco vezes mais aqueles papiros, e ainda, tentando ser minha "manager"...  Começo a achar que ela só estava querendo mesmo... é se aproveitar de mim, de um jeito... ou de outro!
 Jorge Sabongi - Julho/2002 

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