quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A salvação cristã

A salvação cristã

As curas e a alimentação

As curas que Cristo realizou têm uma característica própria. Provocam, ao mesmo tempo, medo e conflitos. Só se entendem dentro do contexto judaico: Jesus não só não exige pagamento por elas, contrariamente ao que se praticava, mas viola também as normas religiosas, especialmente da segregação; cura em dia de sábado, contra a lei do descanso de Deus; dá o protagonismo ao enfermo em vez de privilegiar o taumaturgo; perdoa pecados, que poderiam ter causado a enfermidade; cura pessoas fora dos limites de sua “jurisdição”, como o endemoniado de Gerasa, o filho da cananeia, o servo do centurião...

Em relação à comida Jesus também marca um contraste com as práticas judaicas: come com “gente de má vida”; manda escolher os últimos lugares nos banquetes; é acusado de “comilão e beberrão”, não porque o faça em excesso, mas porque o realiza com “publicanos e pecadores”. As parábolas da misericórdia mostram, nestes sinais, a chegada do reino de Deus.

Os de dentro e os de fora
Jesus, sem dúvida alguma, é judeu. Vive e se expressa nesta cultura. Constitui a melhor expressão e maior riqueza desta raça e cultura. Contudo, entra em choque com as práticas de seu povo, criticando acerbamente sua falta de fé. Chega a elogiar, em contraposição, a fé dos estranhos, como a do centurião romano e da mulher cananeia. Anuncia que virão do Oriente e do Ocidente os povos a sentar-se à mesa com Abraão, enquanto os filhos do reino ficarão de fora. Na verdade quer aplicar aos de fora os mesmos privilégios dos de dentro.

De um lado, Jesus afirma ter sido enviado somente às ovelhas perdidas de Israel, e, de outro lado, garante que somente a fé dá vida. Deus é Pai de todos. Chora sobre Jerusalém. Suas lágrimas, porém, não caem sobre as vitórias dos imperadores, mas sobre as incoerências do povo de Israel, que mata os profetas e apedreja os enviados de Deus.

O samaritano e o fariseu
Jesus inverte o significado das palavras, dando-lhes o um novo sentido, dentro do contexto da salvação divina. Fariseu tinha um sentido positivo, tido como exemplar na prática judaica, totalmente consagrado à causa de Deus. Na pregação de Jesus é apresentado como negativo, de desautorização e de hipocrisia. Samaritano, ao contrário, era alguém malvisto. Em Jesus recebe o maior elogio, apontado como modelo de vida: “faze tu o mesmo”. Quando se fala de uma igreja samaritana não se quer significar a ruptura de Israel com o Cristianismo, mas apontar para a figura do bom samaritano. Alguém, tido como herege,  mostra o outro lado da fé, pelo amor.

O seguimento e o conflito
Jesus suscita um movimento de discípulos e seguidores que revolucionaram o mundo, mas também provoca uma hostilidade que vai crescendo até sua eliminação como um dos piores malfeitores e se estende ao longo dos séculos.

A reação contra Jesus foi liderada pelas autoridades religiosas e pela classe social mais avantajada, com a ajuda do poder político do império. Tinham tudo para prevalecer e tripudiar. Os discípulos de Jesus, ao contrário, não passam de gente humilde: pescadores, algum essênio, um publicano, um zelota, algumas mulheres...

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