terça-feira, 10 de agosto de 2010

Codex Sinaiticus, uma das Bíblias mais antigas do mundo, online

07/July/2009 - 09h18 - 40 Comentarios
A notícia se espalhou pela rede entre ontem e anteontem e é divertida: o Codex Sinaiticus foi ao ar. Cada página digitalizada está num site para quem quiser consultar. Como a AP a chamou de a ‘Bíblia mais antiga do mundo’, os sites repetiram a informação. E como o  artigo da Wikipedia é muito técnico mas não dá muitas pistas básicas, não custa ampliar a explicação.
Não é que a informação esteja errada, mas não dá para afirmar que o Sinaiticus é a Bíblia mais antiga. Ele tem um concorrente, o Codex Vaticanus. Codex é o termo latino para o que em português chamamos códice. É o nome oficial daquilo que entendemos por livro: páginas amontoadas uma após a outra e devidamente encadernadas. Sinaiticus quer dizer ‘do Sinai’. O ‘Livro do Sinai’, encontrado no século 19 por um estudioso alemão no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. Destaca-se a palavra livro para indicar que não é um rolo – muitos documentos antigos eram compilados na forma de rolo.
Livros eram, evidentemente, copiados a mão. No período que estava iniciando a conversão do Império Romano ao cristianismo, no século 4, Constantino encomendou 50 cópias da Bíblia – um empreendimento, diga-se, caríssimo. É bastante possível que estes dois códices – Vaticanus e Sinaiticus – venham desta primeira ‘edição oficial’. Mas, copiados a mão e muito provavelmente em locais distintos, os textos têm suas diferenças. Ambos em grego, o texto de Daniel no Codex Vaticanus usa a tradução do hebraico de Teodócio, ao invés da Septuaginta, tradução considerada hoje oficial pela Igreja.
No entanto, não há nenhuma grande diferença nos textos. Embora incompletos, ambos os códices respeitam um bocado aquilo no que se tornou o Novo Testamento. Sinaiticus inclui dois livros apócrifos – a Epístola de Barnabás e o Pasto de Hermas. Em alguns jornais, destacaram o fato. Mas a presença dos livros não quer dizer que os editores considerassem-nos parte do cânon. Podem ter vindo de brinde por serem considerados boas leituras cristãs.
Sinaiticus é um documento histórico mas não altera particularmente nossa compreensão de como a Bíblia cristã se formou. Nos meios dos estudiosos, é mais comumente chamado Aleph (א), a primeira letra do alfabeto hebraico. É um documento bonito, escrito em grego uncial – um estilo comum na Antigüidade e Alta Idade Média, que só usa capitulares, praticamente sem pontuação ou espaço entre as palavras.
Uma boa fonte para esses assuntos costuma ser Jim Davila, professor de estudos bíblicos da Universidade de St. Andrews, a mais antiga da Escócia. Ele escreve há vários anos o melhor blog do ramo: Paleojudaica. Davila vem acompanhandoo processo de digitalização do documento.

Robert McNamara (1916-2009)

Nenhum comentário:

Postar um comentário