Atentado contra pastor aparece no WikiLeaks
Cônsul dos EUA no Recife estaria analisando

Exatos 1.947 foram enviados pela Embaixada de Brasília entre os anos de 1989 e 2010. No Brasil, o site registrou 778 documentos preparados pelo Consulado de São Paulo, 119 do Rio de Janeiro e 12 do Recife.
O primeiro dos mais de 250 mil telegramas das embaixadas conseguidos pelo Wikileaks e disponibilizado em www.wikileaks.ch, remete de Recife e se refere a uma tentativa de homicídio contra um pastor norte-americano de 45 anos, a 32 quilômetros da capital alagoana. O pastor havia sido ferido a tiros (no braço, pescoço e na mandíbula) na porta da Igreja Batista da Vitória, no bairro de Brasília, no dia 3 de julho. Internado em uma unidade de saúde do estado, ele acabaria transferido para Iowa, nos Estados Unidos, cinco dias depois.
No telegrama de quatro parágrafos e 35 linhas de julho de 2005, o Consulado no Recife analisa a possibilidade de o crime ter motivação semelhante à do assassinato da missionária Dorothy Stang. Nascida nos Estados Unidos e naturalizada brasileira, ela havia sido morta aos 73 anos, no mês de fevereiro daquele ano, em Anapu, no Pará. Pertencente à congregação das Irmãs de Nossa Senhora de Namur, a irmã era uma ativista pelos direitos dos trabalhadores rurais da Amazônia desde a década de 1970. Lutava pelo fim dos conflitos fundiários e defendia uma reforma agrária para beneficiar os moradores das imediações. O homicídio do qual foi vítima teve estreita ligação com as bandeiras por ela empunhadas.
O consulado, no entanto, refuta a associação entre os dois crimes e descarta a hipótese de episódio com conotações políticas contra o pastor. O telegrama conclui pela possibilidade de a tentativa de assassinato ser fruto de “negócios pessoais ou o envolvimento do ministério dele em uma área conhecida pelo uso abusivo de álcool e drogas”. Ainda assim, o consulado comunica o envio de representantes para a região onde o atentado ocorreu para esclarecer as circunstâncias do crime.
Depois de informar a chegada do pastor no Methodist Medical Center, em Iowa, em 9 de julho - viagem feita sem a solicitação de apoio ao consulado -, o telegrama assinado pelo cônsul dos EUA no Recife, Peter Swavely, pondera: “A impressão é que este atentado não foi ou não é politicamente motivado contra o religioso como um cidadão norte-americano, missionário ou envolvido em questões sensíveis da organização política e não-governamentais”. O cônsul relaciona o crime à postura do pastor na luta contra drogas na região e prática de aluguel de casas para pessoas com rendas modestas.
A investigação da Polícia Civil alagoana apontou a possibilidade de ligação do crime com o trabalho desenvolvido pelo religioso contra redes de prostituição infantil no município. Dos Estados Unidos, dias depois do atentado e ainda em recuperação, o pastor enviou uma mensagem para os fiéis brasileiros: “Não tenho a menor ideia de por que alguém quis tirar a minha vida. Seja quem for, perdoo de todo o meu coração”.
Repercussão
Cônsul dos Estados Unidos no Recife desde setembro de 2008, Christopher Del Corso, esclarece que o trabalho de um consulado em qualquer parte do mundo é reportar à embaixada e a Washington tudo o que acontece de relevante em sua área de cobertura.
“Mesmo com esses vazamentos do WikiLeaks, não vamos deixar de relatar nossas experiências. O Movimento dos Sem Terra preocupava e ainda preocupa os Estados Unidos”, destaca Del Corso, sem comentar o impacto negativo que a diplomacia norte-americana está tendo com o vazamento dos documentos.
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