Citação-chave: "Os tempos mudaram. Líderes religiosos não pregam mais que nossos atos naturais são pecaminosos. Nós não achamos mais que sexo é algo sujo – ou que nos orgulharmos de nós mesmos é algo vergonhoso – ou que desejar algo que outra pessoa possui é errado.” (...) Quando um potro atinge a maturidade se torna um cavalo; quando o gelo derrete é chamado de água; quando o período de doze meses chega ao fim nós seguimos um novo calendário correspondente a este novo período cronológico; quando a “magia” se torna um fato científico nós a chamamos de medicina, astronomia, etc. Quando um nome não é mais apropriado para designar determinada coisa é apenas lógico mudar para um novo que seja mais conveniente. Então por que não seguir a lógica quando o assunto é religião? (...) Por que não ter uma religião baseada na indulgência? Certamente é muito mais condizente com a natureza da besta. Nós não somos mais fracos suplicantes, tremendo de medo diante de um “Deus” impiedoso que não se importa se vivemos ou morremos. Nós somos pessoas com respeito próprio e orgulhosas de nós mesmas – nós somos Satanistas!"
Considerações:Nem sempre é benéfico para um soldado responder a altura um general, e nem sempre dar uma esmola a um mendigo será recompensador. Assim, mesmo a reciprocidade deve passar pelo crivo da razão, e mesmo a nossa ‘lei de ouro’ não vale mais do que uma moeda de prata se comparada à mente e juízo pessoal de um Satanista.
O capítulo continua, dessa vez mostrando como os próprios religiosos tiveram que reinterpretar seus livros sagrados frente a esse estranho novo espírtio que acordou nos anos 60. LaVey demonsra como gradualmente os sacerdotes se tornam mais indulgentes com os desejos humanos. E de fato, foi em 1959 que o Papa fez, pela primeira vez, o uso da palavra “aggiornamento”: adaptação. Isso refletia uma necessidade que ficaria cada vez mais evidente até o II Concilio do Vaticano em 1962-1965. O assunto oficial do concilio ficou bem claro na encíclica inaugural Ad Petri cathedran: “a renovação da vida cristã e a adaptação da disciplina eclesiástica às exigências da época presente”. Este período iniciaria na Igreja Católica o processo de adaptação ao mundo que já estava em andamento nas igreja protestantes desde longa data.
Os cultos neo-pentecostais ainda que sejam uma rentável máquina de alienação popular já representam uma evolução se comparada ao sofrível cristianismo medieval. A controversa Teologia da Prosperidade, já promete a felicidade, a prosperidade e a abundância para agora, não mais para o além. Os rituais possuem apelos cada vez mais emocionais e menos espiritualizados e a cura física é mais aclamada do que a absolvição dos pecados. A Igreja Universal do Reino de Deus é emblemática quanto a isso, pois já fornece tanto a “Terapia do Amor”, onde solitários podem dar vazão a seus anseios e encontrar parceiros, como a “Vigília dos Empresários”, onde homens de negócios se reúnem em busca da abundância material. Ou seja, guardadas as devidas proporções já temos um ritual de Luxúria e um de Compaixão, não temos ainda nenhum rito de Destruição, mas as “Seções de Descarrego” já transformaram o exorcismo num exercício de catarse espetacular, com direito ao medo e a curiosidade de ouvir o “demo” falar na televisão.
Monique Evans surpreendeu ao assumir sua identidade evangélica, e passando a freqüentar os cultos na Igreja Sara Nossa Terra, sem abrir mão do topless e da minissaia. “É possível aceitar Jesus sem ter que mudar nosso jeito de ser. (...) O topless é uma coisa natural em outros países e o importante é que nunca mais me senti sozinha e alguns milagres vêm acontecendo seguidamente em minha vida.” (Fonte: site da apresentadora). A sensualidade evangélica, é de fato, um fenômeno nacional e um destes termos contraditórios que marca o fim da cristandade tal como a conhecíamos neste inicio da Nova Era Satânica. Evangélicas famosas, como Baby do Brasil e Simony já posaram em capas de revistas masculinas, sem serem expulsas ou castigadas pelas Igrejas que freqüentam, na certeza de que “acredito muito em Jesus, e sei que ele nunca vai me julgar.” A cantora Greetchen exempifica muito bem o caso, considerando que fala maravilhas sobre o evangelho em programas de entrevistas, para logo depois estar novamente posando nua para revistas masculinas, incentivando suas filhas a fazerem o mesmo e lançando CD’s com o impagável título, “Piripiri de Jesus”.
Difícil ainda prever nos idos anos 60 o fenômeno do rock cristão que se desenvolveu nas décadas seguintes. Mas aquilo que LaVey conjeturou com escárnio, hoje muitos cristãos celebram com alegria. Nos idos dos anos 80 bandas como Agape, Love Song, Petra, Ressurection Band, e especialmente Stryper revolucionariam a musicalidade nas igrejas criando os primeiros estágios do rock cristão. Estas bandas encarregaram-se de rebelar-se contra preconceitos religiosos e culminaram na formação do White Metal como veículo novo e eficiente para a celebração cristã. Keith Green um dos principais músicos evangélicos internacionais, fundador do ministério “Last Days Ministries”, faz um mea culpa em nome da cristandade atual: "Para ser franco, tenho me sentido tão ofendido pela maioria daquilo que tenho visto e ouvido quanto uma doce vovozinha crente que, acidentalmente, acaba entrando num show de rock evangélico... não é o som que me desagrada, nem mesmo o volume, Deus sabe que não é a letra - é o espírito com que é feito. Trata-se da atitude do tipo "olha para mim!" que tenho presenciado em repetidos programas do gênero e também na síndrome do "será que vocês não percebem que somos tão bons quanto os roqueiros do mundo?", que tenho encontrado repetidamente nos discos evangélicos". Hoje, o espetáculo presente na musicalidade cristã é evidente. Showmissas e Marchas para Jesus unem fiéis e astros gospels para além do rock, todos os ritmos, do funk à lambada, são aceitos pelas congregações cada vez mais liberais, engrandecendo o ego e as contas bancárias daqueles que são justamente conhecidos pelas duas palavras: artistas evangélicos. Palavras estas em evidente ordem de importância.
Por fim, há tempos as Igrejas deixaram de ser os pontos centrais das cidades mesmo que ainda estejam presentes transformadas em pontos turisicos ou sucateadas. Hoje, shoppings, parques e centros de lazer são os destaques que levantam verdadeiros monumentos a indulgência humana. Observando assim o mundo a sua volta LaVey chega a conclusão de que as antigas crenças se adaptaram tanto, mudaram tanto que se tornaram obsoletas e que deveriam ser descartadas inteiramente e substituidas por uma religião verdadeiramente compromissada com as necessidades da carne. Satanismo é o nome desta religião;
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