quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Não temas, ó vermezinho de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu Redentor é o Santo de Israel" (Is 41.14).
Uma promessa maravilhosa! Mas onde, como e quando esta ajuda para Israel pode ser encontrada hoje? Talvez, com os EUA? Não! Ou talvez com Deus, que permitiu o Holocausto e deixou ocorrer a "intifada" (rebelião dos palestinos)? Os inimigos, cegos de ódio, não poupam nenhum sacrifício, nem a própria vida para espezinhar o "vermezinho de Jacó" e provocar uma "solução final" para poder estabelecer o chamado Estado Palestino. E isso em Eretz Israel (a terra de Israel)! O mundo sem Deus prefere crer numa mentira histórica, ao invés de crer na Palavra de Deus eternamente válida.
Lembremo-nos mais uma vez do que Deus diz do "vermezinho de Jacó": "Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito" (Dt 7.6-8).
Do "vermezinho de Jacó" brotou Davi, o "Meleque (= rei) de Israel", que escolheu ser pequeno e humilde diante de Deus. Pela graça de Deus ele pôde subir ao "trono de Davi" como rei terreno e precursor do eterno Rei da Paz, Jesus Cristo.
Deus não escolhe quem busca poder, status e fama. Pelo contrário: "Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes" (1 Co 1.27). Esse é um princípio divino, que se estende por todo o Plano de Salvação.
"Palestina", como Israel é chamado por muitos hoje, é uma designação falsa, pois essa palavra é uma derivação de "pelishtim" ou "Filístia". Na verdade Israel foi oprimido temporariamente pelo "povo do mar", os filisteus, mas os conhecedores da Bíblia sabem que Davi acertou as contas com Golias e os filisteus foram vencidos. Em tempo algum a terra de Israel pertenceu aos filisteus ou aos palestinos. Os moradores da terra, antes que Israel a ocupasse, foram as gerações dos cananeus: "Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus, aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus. E o limite dos cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa" (Gn 10.15-19), e a terra se chamava Canaã. "Habitou Abrão na terra de Canaã; e Ló, nas cidades da campina e ia armando as suas tendas até Sodoma" (Gn 13.12). Depois que Ló havia se separado de Abraão, este recebeu novamente uma confirmação da parte de Deus: "Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra (Canaã) que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre" (Gn 13.14-15).
Quando Israel entrou em Canaã, Josué recebeu a ordem divina: "Moisés, meu servo, é morto; dispõe-te, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu prometi a Moisés" (Js 1.2-3). Depois de quarenta anos de peregrinação pelo deserto, a terra de Canaã foi a pátria de Israel durante 1.500 anos até a destruição do templo no ano 70 d.C. Então Israel foi espalhado entre os povos – até que no ano de 1948, foi-lhe novamente concedida uma pátria por decisão da ONU, mas com a imposição (infeliz) de dividi-la com os árabes.
Mas de onde vem, então, o nome Palestina? O imperador romano Adriano, que odiava os judeus e os cristãos, deu esse nome à terra no ano de 135 d.C., com a intenção de que não se fizesse mais referência "ao nome Judéia de Israel". Assim foi cunhado o falso nome "Palestina" e ele ficou sendo usado desde então. Infelizmente, até as sociedades bíblicas aceitaram essa falsa denominação e a usaram nos mapas em diversas Bíblias: Palestina, ao invés de Canaã.
Aqueles que atualmente se chamam de palestinos são árabes, sejam eles muçulmanos ou cristãos. No fundo a polêmica atual entre árabes e judeus (Israel) não é um problema étnico nem político, mas um problema religioso. E por isso, na verdade, somente a Bíblia pode mostrar o caminho certo para a solução do conflito.
Israel (= Jacó) é uma designação que se refere tanto ao povo como também à terra. Povo e terra formam uma unidade inseparável. Desta forma, a terra deve pertencer aos palestinos, ou seja, aos árabes? Jamais, pois o próprio Deus garante que ela pertence a Israel. As nações deveriam prestar atenção àquilo que Deus diz do Seu "vermezinho Israel" e como Ele o protege: "Porque aquele que tocar em vós toca na menina do seu olho" (Zc 2.8b).
A história trágica de Israel mostra que desde o início da sua existência foi oprimido continuamente por poderes inimigos e até ameaçado pelo holocausto. Holocausto significa extermínio em massa, extinção, solução final do problema judeu. Isso já começou antigamente no Egito com Faraó, que tentou dizimar os hebreus. Mas tão certo como Faraó e seus exércitos se afogaram no Mar Vermelho, também Deus acertará as contas com os atuais inimigos de Israel. Naquele tempo ainda era um único inimigo que ameaçava a Israel, hoje são as nações. Desde 1948 Israel foi envolvido em cinco guerras, às quais sobreviveu vitoriosamente. Hoje um dos seus principais inimigos, que usa pedras, punhais e bombas, está bem no meio do seu território. Contra isso é difícil usar tanques, ou aviões. Por meio de guerras e atos terroristas morreram milhares de israelenses desde a fundação do Estado, e a desejada paz desvanece cada vez mais para o "vermezinho de Jacó". Altos dignitários da política vêm a Israel e se atrevem a dar "bons" conselhos e exortações, dizendo que os judeus deveriam ceder territórios. Mas nada nem ninguém anula as promessas que Deus deu a Jacó: "Disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó. Já não te chamarás Jacó, porém Israel será o teu nome. E lhe chamou Israel. Disse-lhe mais: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; sê fecundo e multiplica-te; uma nação e multidão de nações sairão de ti, e reis procederão de ti. A terra que dei a Abraão e a Isaque dar-te-ei a ti e, depois de ti, à tua descendência" (Gn 35.10-12). Mas nem o povo como um todo nem o governo se firma nessa promessa, e infelizmente segue o caminho da "angústia de Jacó", conforme Jeremias 30.7-10: "Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela. Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, eu quebrarei o seu jugo de sobre o teu pescoço e quebrarei os teus canzis; e nunca mais estrangeiros farão escravo este povo, que servirá ao Senhor, seu Deus, como também a Davi, seu rei, que lhe levantarei. Não temas, pois, meu servo, Jacó, diz o Senhor, nem te espantes, ó Israel; pois eis que te livrarei das terras de longe e à tua descendência, da terra do exílio; Jacó voltará e ficará tranqüilo e em sossego; e não haverá quem o atemorize".
Nosso coração anseia por isso! A nossa oração sempre deve ser que, sem demora, Israel seja conduzido ao encontro do destino que Deus planejou para ele! Para isso é preciso ter fé baseada nas Escrituras e perseverança, não se deixando determinar pelo mal e pelo que é atualmente visível, mas sim, firmando-se nas imutáveis promessas de Deus!
Deus o chama de "vermezinho de Jacó". O Israel moderno – e "vermezinho de Jacó", será que isso combina? Ou Deus deveria fazer uma correção e mudar-lhe o nome? Com essa humilde terminologia divina ofenderíamos Israel diretamente. No máximo, esta expressão talvez possa ser engolida nas piadas judaicas ou no humor do escritor satírico israelense Ephraim Kishon. Israel se orgulha dos seus progressos tecnológicos. E não só por isso, pois em todas as áreas os judeus realizam coisas inovadoras. Por exemplo, em tempo recorde eles criaram um jardim florido e belas cidades nas areias do deserto. Não se consegue enumerar tudo o que eles estão conseguindo e realizando. E nós nos admiramos e nos alegramos com o seu sucesso, e naturalmente também porque foram vitoriosos nas cinco guerras, das quais se viram obrigados a participar. E se houver guerra novamente, Israel está preparado – e como!
Contudo, falta o essencial ao povo de Deus hoje: a confiança no Deus de seus pais Abraão, Isaque e Jacó. Israel quer ser como todos os outros povos e esquece o seu Deus. Por isso, hoje em dia, há medo e perplexidade por toda parte. Alastram-se a anarquia e a imoralidade em Israel como acontece nas outras nações. No Knesset (Parlamento) ninguém se levanta e chama ao retorno para o Deus dos pais. Para onde isso vai levar? Para a "angústia de Jacó", a Grande Tribulação. Só se pode implorar: "Senhor, tenha misericórdia deles e abrevie esse tempo!" O próprio Deus é fiador da salvação e do renascimento de Israel, que o Messias, Yeshua, Jesus Cristo, trará. Então se cumprirá o que está escrito: "Eu, o Senhor, te chamei em justiça; tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios" (Is 42.6). Por isso: nós, que amamos o judeu Jesus, formemos uma muralha de orações ao redor do "vermezinho de Jacó"! Assim o problema com os vizinhos de Israel, hoje ainda inimigos, estará resolvido: "Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança" (Is 19.25b).
Com absoluta certeza o "vermezinho de Jacó" pode contar com a ajuda do Senhor, pois seu Redentor, o próprio Santo de Israel, comprometeu-se com Sua promessa: "Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias; desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor" (Os 2.19-20).
Naquele tempo, segundo o direito judaico, o noivado era bem mais significativo do que nos costumes do Ocidente. Um casal de noivos ficava comprometido um com o outro, pois o noivo pagava um dote por ocasião do noivado. Com isso o acordo estava selado. Em que consiste o dote em relação a Israel? "Em justiça, em juízo, e em benignidade e em misericórdias... e em fidelidade!" Qual é o fundamento de um noivado? Evidentemente é o amor! Além disso, o Senhor ainda lhes deu Seu Filho unigênito. Portanto, o que mais Israel pode esperar de Deus? Encontramos a resposta em Romanos 11.29: "Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" e: "se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo" (2 Tm 2.13).
Deus cumpriu Seu juramento e continua cumprindo-o. – E Israel? "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam" (Jo 1.11). E: "Não queremos que este reine sobre nós" (Lc 19.14b). Que tragédia para a própria desgraça! Que grande ofensa a Deus e a Seu Filho! Como deve ter sido dolorosa para Eles a recusa desse amor! Ouvimos como um lamento: "Estendi as mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos" (Is 65.2). Por isso Israel ainda tem de passar pelo juízo redentor, pois Deus diz por meio de Samuel: "Se, porém, não derdes ouvidos à voz do Senhor, mas, antes, fordes rebeldes ao seu mandado, a mão do Senhor será contra vós outros, com foi contra vossos pais" (1 Sm 12.15)."Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça" (Is 59.1-2).
Poderíamos continuar jogando sobre Israel muitas outras passagens bíblicas que falam de condenação. Esta é a nossa tarefa? De maneira nenhuma! Isso não compete a nós! Nesse sentido nos chama a atenção a insistente exortação do apóstolo Paulo: "Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará" (Rm 11.20b-21). Por acaso será que nós temos sido continuamente fiéis ao Senhor? Infelizmente, não! Somos nós melhores do que o "vermezinho de Jacó?" De modo algum! É vergonhoso constatar que o anti-semitismo não se alastra apenas nos círculos políticos, mas até em igrejas isso tem acontecido – e contagiado membros de grupos cristãos.
Desde a escolha de Israel, como povo de propriedade de Deus, o inimigo tem sempre procurado destruí-lo. Ele costuma usar dirigentes políticos como Hitler, Nasser, Kaddafi, Yasser Arafat, mas também a imprensa de esquerda. O Holocausto começou com Faraó. Na peregrinação pelo deserto foi o rei Balaque que usou os serviços do renomado adivinho e "vidente" Balaão. Este era uma sumidade no terreno do ocultismo. Balaão deveria amaldiçoar Israel por meio de suas temidas maldições mágicas, o que falhou apesar de diversas tentativas. Contra a vontade de Balaque e Balaão, ao invés de maldição, esse falso profeta teve de pronunciar as mais gloriosas palavras de bênção: "Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem... uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro" (Nm 24.9b e 17a).
A história de Israel, em muitos trechos, é uma história de sofrimentos trágicos. Finalmente houve na Suíça e em alguns outros países uma disposição para rever a História e ressarcir danos materiais às vítimas do Holocausto e seus descendentes, e se fala de revisar o passado. Mas além disso também seria importante revisar a História de Israel, sua origem e suas promessas como são ensinadas em escolas e universidades. Para isso, porém, seria necessário estudar a Bíblia! Como, entretanto, as nações e seus dirigentes estão cegos e não têm mais compromisso com a Bíblia, continuam presos à velha e antiga culpa, que é impossível de ser reparada com quaisquer bens materiais. Ninguém pode resgatar sua culpa por meio de ouro ou dinheiro! Deus não aceita nenhuma negociação de indulgências. A Palavra de Deus diz que as nações se tornaram cegas: "obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração" (Ef 4.18).
Alguém que odiava os judeus perguntou a um velho judeu:
"O que você pensa que acontecerá com o seu povo se nós continuarmos perseguindo vocês"? O judeu respondeu: "Haverá um novo feriado para nós!" "O que você quer dizer com isso?", perguntou o outro, "como vocês podem ter um novo feriado se continuarmos perseguindo vocês?" O velho judeu disse: "Veja bem, Faraó quis nos exterminar – e nós recebemos um feriado: a Páscoa! Hamã quis enforcar Mordecai e exterminar todos os judeus – e nós recebemos um novo feriado: Purim! Antiôco, o rei da Síria, quis exterminar os judeus. Ele ofereceu um porco ao deus Júpiter no templo – e Israel recebeu outro feriado: Hanucah! Hitler quis nos exterminar – e nós recebemos mais um feriado: Yom Ha’atzmaut, o Dia da Independência! Os jordanianos ocuparam Jerusalém Oriental durante 19 anos, impedindo-nos de orar no Muro das Lamentações, até que, no ano de 1967, nossos soldados libertaram Jerusalém Oriental. Desde então festejamos anualmente o Yom Yerushalaym, o Dia de Jerusalém! E caso continuarem nos perseguindo, receberemos mais feriados da parte de Deus!" E o velho judeu tem razão!
Esta história continua sendo escrita: Israel receberá outro feriado. O monumento já foi levantado. No mundo inteiro só existe um único monumento a uma guerra que ainda não aconteceu. Qualquer um tem a oportunidade de vê-lo em Megido, e a placa indicativa diz que, de acordo com Apocalipse 16.16, Deus reunirá as nações para a guerra em Armagedom. Mas não somente isso. Também se cumprirá Zacarias 14.12 assim que os inimigos de Israel atacarem Jerusalém, e a sentença está lavrada: "Esta será a praga com que o Senhor ferirá a todos os povos que guerrearem contra Jerusalém: a sua carne se apodrecerá, estando eles de pé, apodrecer-se-lhes-ão os olhos nas suas órbitas, e lhes apodrecerá a língua na boca." Por causa das armas químicas, esse cenário apocalíptico se torna compreensível. Mas nós cremos na promessa divina: "Porque eu sou contigo, diz o Senhor, para salvar-te; por isso, darei cabo de todas as nações entre as quais te espalhei; de ti, porém, não darei cabo, mas castigar-te-ei em justa medida e de todo não te inocentarei" (Jr 30.11).
Da mesma maneira Deus procedeu com os israelitas na Pérsia. O livro de Ester relata uma história estranha, que soa como um conto de fadas das mil e uma noites. A vida majestosa e cheia de pompa do Oriente e as intrigas que faziam parte da corte real da Pérsia são descritas de maneira muito realista: uma grande parte de Israel não conseguia se decidir a obedecer aos profetas, Isaías e Jeremias, para deixar a Babilônia e voltar para a sua terra, embora a ordem do Senhor fosse clara: "Saí da Babilônia, fugi de entre os caldeus" (Is 48.20a), e "Saí do meio dela, ó povo meu, e salve cada um a sua vida do brasume da ira do Senhor" (Jr 51.45). O período de 70 anos de cativeiro no exílio, conforme os profetas haviam anunciado, estava no fim. O templo deveria ser novamente edificado em Jerusalém e os sacrifícios reinstituídos. Mas os judeus que haviam ficado não mostraram nenhuma vontade nesse sentido. Obviamente eles preferiram se assimilar e se acomodar na terra próspera onde se encontravam. Aí se manifestou novamente a desobediência obstinada: "Mas o meu povo não me quis escutar a voz, e Israel não me atendeu. Assim, deixei-o andar na teimosia do seu coração; siga os seus próprios conselhos" (Sl 81.11-12). Isso teve por conseqüência inevitável: "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a mão, e não houve quem atendesse; antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão, também eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei" (Pv 1.24-26).
Esta não é uma séria advertência para nós? Quem pensa que sabe tudo melhor e persiste na teimosia, traz sobre si infortúnio e infelicidade. Foi a grande misericórdia de Deus que fez com que Ele, assim mesmo, aceitasse Seu povo desesperado e o salvasse para a Sua honra. A Sua misericordiosa providencial protegeu o resto do povo do aniquilamento total, e Ele também o fará no futuro! A decisão de Hamã de exterminar os judeus e enforcar Mordecai foi frustrada pelo corajoso ato da Hadassa (= Ester). "Se morrer, morrerei"! Com essa decisão corajosa ela não apenas frustrou o plano de Hamã, mas também do rei, agindo em favor do seu povo. E Hamã experimentou o dito: aquele que prepara uma forca para Israel será pendurado nela!
Onde a Bíblia ensina que Jesus voltará ao Monte das Oliveiras?
No primeiro capítulo de Atos lemos sobre a ascensão de Jesus do Monte das Oliveiras, depois da ressurreição e de ter passado 40 dias com os discípulos. Enquanto os discípulos observavam a ascensão, dois anjos lhes apareceram dizendo que Jesus voltaria para o mesmo lugar: "e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir" (Atos 1.11).
O retorno de Cristo, ou a Segunda Vinda (não o Arrebatamento), foi profetizado por Zacarias quase 600 anos antes da Sua primeira vinda, ou seja há 2600 anos atrás, em Zacarias 14.4: "Naquele dia, estarão os seus pés sobre o Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; o Monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade para o sul." Pelo fato de Cristo ter feito no Monte das Oliveiras o Seu grande discurso profético sobre Sua Segunda Vinda, conclui-se que Sua volta será no mesmo local (Mateus 24-25).
Sessenta anos depois da ascensão, o apóstolo João também escreveu sobre a Segunda Vinda de Cristo à terra em Apocalipse 19.11-16, apesar de não mencionar especificamente o Monte das Oliveiras. A Segunda Vinda não deve ser confundida com o Arrebatamento, que acontece sete anos antes e é registrado em 1 Tessalonicenses 4.14-17. Essas duas vindas são eventos bem separados e distintos.[1]
A Segunda Vinda é diferente do Arrebatamento?
É depois do Arrebatamento que a Tribulação de sete anos começa. Portanto, a Segunda Vinda de Cristo acontece no fim da Tribulação. Há muitas passagens que diferenciam os dois eventos e os numerosos contrastes. No Arrebatamento, Jesus não volta a Jerusalém nem à Terra, mas encontra a Igreja nos ares. Na Segunda Vinda, Cristo volta com os santos à Terra e a Jerusalém, como previsto em Zacarias 14.4-5 e Mateus 24.27-31.[2]
Por que Cristo volta a Jerusalém e não a uma outra cidade?
Cristo voltará a Jerusalém para julgar o mundo e estabelecer Seu reino milenar. Ele também reinará no trono de Davi para cumprir as profecias do Antigo Testamento que prometiam um Rei Messias da linhagem de Davi a Israel. Embora seja um reino universal, ele será centrado em Jerusalém por causa do trono de Davi e da restauração de Israel. O Dr. Walvoord escreve:
Seu reinado sobre a casa de Israel será a partir de Jerusalém (Isaías 2.1-4), e do mesmo local reinará como Rei dos Reis e Senhor dos Senhores sobre toda a terra (Salmos 72.8-11, 17-19)... O Milênio será a hora da restauração final de Israel. No começo do reino milenar Israel terá seu ajuntamento final e permanente (Ezequiel 39.25-29; Amós 9.15). O reinado de Cristo sobre Israel será glorioso e um cumprimento completo e literal de tudo que Deus prometeu a Davi (Jeremias 23.5-8).[3]
A Rainha Ester
O livro de Ester é único entre todos os livros da Bíblia, porque em nenhum dos seus dez capítulos é mencionado o nome de Deus. Tal fato tem levado alguns estudiosos a concluírem que ele não possui caráter canônico. Certa vez, Martim Lutero chegou a dizer que gostaria que ele nem tivesse existido. Mas quanto mais você lê esse livro relativamente pequeno, mais reconhece a providência divina. Essa providência não é revelada de nenhuma forma miraculosa; antes, podemos observar que ela acontece de forma muito natural, à medida que contemplamos o desfecho de circunstâncias que culminam com a ascensão dos judeus, contrariando dessa forma a sua tão cuidadosamente planejada aniquilação.
“Nos dias de Assuero, o Assuero que reinou desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias, naqueles dias, assentando-se o rei Assuero no trono do seu reino, que está na cidadela de Susã, no terceiro ano de seu reinado, deu um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, no qual se representou o escol da Pérsia e Média, e os nobres e príncipes das províncias estavam perante ele” (Ester 1.1-3).
Antes de iniciarmos nosso estudo, vamos identificar o rei Assuero. No livro Explore The Book, escrito por J. Sidlow Baxter, lemos:
O nome do filho de Dario foi decifrado como Khshayarsha, que, ao ser traduzido para o grego, é Xerxes, e que, traduzido para o hebraico, é, praticamente, letra por letra, Akhashverosch, o que corresponde a Assuero em português.

Os méritos para a primeira identificação de Assuero como Xerxes vão para Georg Friedrich Grotefend. Quando jovem estudante na Universidade de Göttingen, ele se propôs a decifrar pacientemente os personagens curiosos e bem delineados que foram encontrados em inscrições nas ruínas da antiga cidade persa de Persépolis. O nome do filho de Dario foi decifrado como Khshayarsha, que, ao ser traduzido para o grego, é Xerxes, e que, traduzido para o hebraico, é, praticamente, letra por letra, Akhashverosch, o que corresponde a Assuero em português. Presumindo que o nome era lido na língua persa, a identidade de Assuero estava estabelecida; e achados mais recentes corroboraram as descobertas de Grotefend.
A riqueza de detalhes dos eventos documentados nas Escrituras sempre me impressiona. A história não começa com “era uma vez”, mas identifica o nome do rei da época: Assuero. A extensão do império também é claramente definida: “da Índia... até à Etiópia”. Onde esse homem governava? “...na cidadela de Susã”. Quando isso ocorreu? “No terceiro ano do seu reinado”. Quem estava envolvido? “...os poderosos da Pérsia e Média, e os nobres e príncipes”. Se alguma dúvida surgir, podemos comparar esses dados com evidências arqueológicas obtidas de pratos de cobre, tabuinhas de barro, remanescentes de ruínas ou inúmeras outras fontes de documentos históricos.
O evento sobre o qual iremos falar começa quando a rainha se recusa a obedecer às ordens do rei. Já li vários comentários sobre a razão pela qual a rainha Vasti se recusou a atender o convite de seu marido. Um grande número de estudiosos da Bíblia concluiu que a rainha era uma pessoa de caráter íntegro que se recusou a participar de uma orgia de bêbados, promovida pelo seu marido e os demais membros da nobreza. Essa conclusão é baseada no estudo da história que identifica o rei Xerxes como um indivíduo emocionalmente instável, que era cruel em suas atitudes e imprevisível em suas ações. Isso pode soar um tanto lógico para muitas pessoas hoje em dia, uma vez que não é mais comum atualmente que uma esposa atenda a uma ordem do marido. Esse tipo de comportamento foi a base para o movimento de busca de direitos iguais para homens e mulheres. Em nossa sociedade moderna, tornou-se quase impossível continuar seguindo os costumes antigos. Na maioria das famílias, tanto o marido quanto a mulher trabalham a fim de sustentar o lar. Em muitos casos, o salário da mulher é até mais alto que o do marido; por isso, parece não haver sentido em que um dos parceiros do casamento esteja acima do outro. Em outras palavras, esse é um processo evolucionário natural. Quem pode discutir com essa conclusão lógica: se a sua esposa trabalha o dia inteiro e volta para casa para encontrar um lar desarrumado, por que você não deveria ajudá-la com os afazeres domésticos? Eu apoio esse comportamento de todo o coração e acrescento ainda um forte “Amém!”
Podemos nos opor a esse desenvolvimento o quanto quisermos; podemos identificá-lo como uma filosofia da Nova Era ou algo antifamília. Esse até pode ser o caso e não discordo disso. Mas, fatos são fatos. Nós não estamos apenas vivendo em um tempo onde a igualdade entre maridos e esposas é uma realidade, mas também em uma época em que as crianças também são freqüentemente incluídas nas decisões familiares.
Contudo, três fatores me fazem discordar dos meus colegas a respeito da reação da rainha Vasti:
1) No versículo 5 lemos: “...deu o rei um banquete a todo o povo que se achava na cidadela de Susã, tanto para os maiores como para os menores...” Tratava-se de um evento oficial e autorizado, baseado em uma ordem do rei.
2) “Também a rainha Vasti deu um banquete às mulheres na casa real do rei Assuero” (v. 9). É enfatizado o fato de a rainha ter oferecido uma festa para as mulheres na casa que pertencia ao rei Assuero, indicando que ela lhe era sujeita. Aparentemente, nenhuma provisão legal foi feita para que a rainha Vasti realizasse seu próprio evento; portanto, ela agiu fora da lei.
3) No versículo 8 lemos: “Bebiam sem constrangimento, como estava prescrito”. Essa civilização era bem avançada e governada pela lei. Várias evidências de antigos artefatos testificam que essa era uma civilização bem desenvolvida. Veremos mais tarde que as leis eram tão poderosas, que nem o próprio rei poderia passar por cima delas. Por isso, a interpretação de que a rainha Vasti teria justificadamente se oposto ao banquete de bêbados não tem fundamentação bíblica.
A rainha havia infringido a lei! Vasti havia se rebelado contra a autoridade estabelecida pela civilização persa.

Arriscando a possibilidade de ser mal-entendido, eu me aventuro a dizer que a rainha Vasti era uma feminista, que estava interessada somente em fazer a sua própria vontade, mesmo se isso importasse em desrespeitar a autoridade de seu marido, o que podemos constatar no versículo 12: “Porém a rainha Vasti recusou vir por intermédio dos eunucos, segundo a palavra do rei, pelo que o rei muito se enfureceu e se inflamou de ira”.
Embora vejamos que o rei estava de fato irado, ele não agiu como um bêbado irresponsável, ou como um ditador insensível que abusava de sua autoridade. O rei Assuero convocou todos os seus conselheiros oficiais: “...os sábios que entendiam dos tempos (porque assim se tratavam os interesses do rei na presença de todos os que sabiam a lei e o direito” (v. 13). Uma questão foi levantada: “O que deveria ser feito à rainha Vasti, segundo a lei?” Novamente, vemos que o manejo da situação envolvia um procedimento ordenado, uma questão legal, com conseqüências nacionais. A rainha havia infringido a lei! Vasti havia se rebelado contra a autoridade estabelecida pela civilização persa. É interessante observar que o rei deu uma ordem quase idêntica ao que é dito no Novo Testamento: “...cada homem deve ser senhor de sua própria casa” (Ester 1.22). Em 1 Timóteo 3.5 lemos: “pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” Para um homem servir a Deus, é necessário que ele governe sua própria casa. A rainha Vasti estava dando seu banquete na casa do rei.

Mordecai, o judeu

O povo judeu, que tinha sido disperso de Jerusalém e levado cativo à terra de Babilônia, que mais tarde acabou sendo governada pelos medo-persas, vivia aparentemente em paz e gozava de prosperidade. Dentre aqueles judeus havia um de nome Mordecai, que tinha uma sobrinha chamada Ester. Quando Mordecai descobriu que a rainha Vasti havia se separado do rei Assuero, o que resultou em sua dispensa, e que o rei procurava uma nova rainha, ele apresentou Ester como candidata.
Ester logo tornou-se a favorita do rei e lemos: “Assim foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado” (Ester 2.16).
O povo judeu tinha sido disperso de Jerusalém e levado cativo à terra de Babilônia, que mais tarde acabou sendo governada pelos medo-persas. Dentre aqueles judeus havia um de nome Mordecai.

O tio Mordecai permanecia observando tudo de longe. Ele era um servo fiel do rei gentio e aparentemente cumpria tudo o que a lei exigia. Contudo, havia uma exceção: Mordecai, o judeu, recusou-se a curvar-se diante do primeiro-ministro do reino, chamado Hamã, o agagita: “Todos os servos do rei que estavam à porta do rei, se inclinavam e se prostravam perante Hamã; porque assim tinha ordenado o rei a respeito dele. Mordecai, porém, não se inclinava, nem se prostrava” (Ester 3.2).
Será que Mordecai se recusou a se prostrar diante de Hamã porque ele reconhecia a arrogância desse homem? Será que ele não o honrou porque estaria sendo hipócrita? Nós sabemos através de outros versículos que o ato de se curvar perante uma autoridade ou um hóspede estimado era muito comum naqueles dias. Uma coisa é certa, Mordecai não se curvaria perante Hamã. Até os servos do rei perguntaram: “por que transgrides as ordens do rei?” (Ester 3.3). Mordecai deliberadamente violou o mandamento do rei. Obviamente Hamã tinha autoridade para eliminar Mordecai. Aparentemente, esse homem estava tão cheio de orgulho e ódio, que matar somente um homem não iria satisfazer-lhe os desejos. Então, ele planejou a aniquilação de todo o povo judeu existente no reino: “Porém teve como pouco, nos seus propósitos, o atentar apenas contra Mordecai, porque lhe haviam declarado de que povo era Mordecai, por isso, procurou Hamã destruir todos os judeus, povo de Mordecai, que havia em todo o reino de Assuero” (Ester 3.6).
A fim de cumprir seus intentos malignos, Hamã tinha que proceder de conformidade com a lei. Sendo um confiável oficial do governo, ele apresentou seu caso ao rei: “Então disse Hamã ao rei Assuero: Existe espalhado, disperso entre os povos em todas as províncias do teu reino, um povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos e que não cumpre as do rei, pelo que não convém ao rei tolerá-lo. Se bem parecer ao rei, decrete-se que sejam mortos, e, nas próprias mãos dos que executarem a obra, eu pesarei dez mil talentos de prata para que entrem nos tesouros do rei. Então, o rei tirou da mão o seu anel, deu-o a Hamã, filho de Hamedata, agagita, adversário dos judeus” (Ester 3.8-10). Hamã misturou a verdade com mentiras. O fato de que as “leis [do povo judeu] são diferentes das leis de todos os povos” era verdade, mas ele acrescentou uma mentira óbvia: “...e não cumpre as [leis] do rei...” Mordecai foi quem quebrou a lei, não os demais judeus. De qualquer forma, o destino dos judeus estava selado! O versículo 13 nos dá os detalhes: “Enviaram-se as cartas, por intermédio dos correios, a todas as províncias do rei, para que se destruíssem, matassem e aniquilassem de vez a todos os judeus, moços e velhos, crianças e mulheres, em um só dia, no dia treze do duodécimo mês, que é o mês de adar, e que lhes saqueassem os bens” (Ester 3.13). O terceiro capítulo conclui: “o rei e Hamã se assentaram a beber, mas a cidade de Susã estava perplexa”. As pessoas estavam impressionadas, o rei não sabia de nada, e Hamã se regozijava porque seus planos estavam se realizando.
Sem dúvida os judeus, que tinham ganhado riquezas na terra do cativeiro, tornaram-se parte integral desse reino próspero. De repente, essa nova lei foi introduzida e consistia em uma sentença de morte para todo o povo judeu. Que terrível tragédia foi para os judeus saberem que todos iriam ser executados no dia 13 do mês de adar.
As propriedades e as riquezas que eles haviam acumulado seriam dadas para seus piores inimigos. Como eles devem ter clamado a Deus: “Oh! Senhor, como podes deixar isso acontecer conosco? Nós somos o teu povo, a quem o Senhor tirou da escravidão do Egito. O Senhor nos fez uma grande nação, mas temos pecado contra ti. O Senhor nos rejeitou novamente, mas prometeu que nos traria de volta, e agora toda a nossa esperança está perdida e estamos por perecer”. O que os judeus não sabiam é que todos os seus inimigos seriam identificados pela sua sentença de morte. Não havia muita dúvida de que aqueles que odiavam os judeus estavam deixando bem claro que viriam ao seu encalço. Eles provavelmente os atormentaram contando os dias. Os inimigos não podiam tocá-los enquanto o dia determinado não chegasse, porque os judeus estavam protegidos pela lei como o restante do povo. A lei e a ordem foram implementadas pela autoridade do rei. Os judeus estavam seguros até o dia 13 do mês de adar, quando uma outra lei se tornaria efetiva.
Nesse meio tempo, Mordecai e todos os judeus do reino começaram a orar: “...havia entre os judeus grande luto, com jejum e choro, e lamentação; e muitos se deitavam em pano de saco e em cinza” (Ester 4.3).

A rainha Ester

Foi nessa hora que Ester entrou em cena. Mordecai a contactou com uma afirmação profundamente profética: “Porque se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4.14). A profunda fé de Mordecai no Deus de Israel é evidente. Ele ainda acreditava em um livramento mas não sabia como este iria acontecer.
Ester reconheceu que sua situação era precária porque ela não poderia se aproximar do rei sem a sua permissão. Contudo, essa mulher determinada, que teve um papel fundamental na salvação física dos judeus, tinha tomado uma decisão. Se fosse necessário, ela estava preparada para dar a vida pelo seu povo: “...se perecer, pereci” (Ester 4.16).
Ester chegou à conclusão de que a vida do seu povo era mais importante que a dela.

Ester chegou à conclusão de que a vida do seu povo era mais importante que a dela. Ela infringiu a lei, aproximando-se do rei sem um convite formal, e encontrou graça perante o rei Assuero: “Quando o rei viu a rainha Ester parada no pátio, alcançou ela favor perante ele; estendeu o rei para Ester o cetro de ouro que tinha na mão; Ester se chegou e tocou a ponta do cetro” (Ester 5.2). Esse gesto foi o primeiro sinal de esperança para a salvação de Israel. O cetro é um símbolo e uma expressão do poder real. Embora esse cetro estivesse nas mãos do rei Assuero, o verdadeiro poder repousa sobre o cetro ao qual Jacó se referiu profeticamente quando falou a respeito de Judá: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” (Gênesis 49.10).
Mais tarde na história, lemos sobre Balaão, o profeta gentio que descreveu o povo do cetro: “Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete” (Números 24.17).
Por isso, quando lemos que: “o rei apontou para Ester o cetro de ouro que estava em sua mão”, devemos perceber que esse era mais do que um ornamento decorado de ouro na mão de um rei gentio; era a providência de Deus para Israel que estava naquele cetro.
Como Ester reagiu? Ela falou ao rei imediatamente sobre a catástrofe que aconteceria ao seu povo? Ela implorou por misericórdia? Não. Ester sabia que estava na presença do rei que possuía o poder pelo qual poderia decretar uma nova lei. De forma sábia, Ester primeiro procurou criar uma amizade não somente com o rei, mas também com o inimigo: “Respondeu Ester: Se bem te parecer, venha o rei e Hamã, hoje, ao banquete que eu preparei ao rei” (Ester 5.4).
Durante o banquete, o rei perguntou: “Qual é a tua petição?” (Ester 5.6). Ester respondeu: “se achei favor perante o rei, e se bem parecer ao rei conceder-me a petição, e cumprir o meu desejo, venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar amanhã, e então farei segundo o rei me concede” (Ester 5.8). A rainha Ester foi cautelosa. Ela se comportou com dignidade real e convidou Hamã e o rei para um outro banquete no dia seguinte.
Cheio de alegria e completamente cego quanto ao seu destino, Hamã proclamou a sua esposa e amigos: “Contou-lhes Hamã a glória das suas riquezas e a multidão de seus filhos, e tudo em que o rei o tinha engrandecido, e como o tinha exaltado sobre os príncipes e servos do rei” (Ester 5.11). A grande honra que lhe fora dada não o fez consciente da sua própria desgraça; aliás, o que aconteceu foi exatamente o oposto: ele mergulhou em uma escuridão ainda maior. Hamã disse: “Porém tudo isto não me satisfaz, enquanto vir o judeu Mordecai assentado à porta do rei” (Ester 5.13). Aí sua esposa se envolveu: “Então, lhe disse Zeres, sua mulher, e todos os seus amigos: Faça-se uma forca de cinqüenta côvados de altura, e, pela manhã dize ao rei que nela enforquem Mordecai; então, entra alegre com o rei ao banquete. A sugestão foi bem aceita por Hamã, que mandou levantar a forca” (Ester 5.14). A execução de Mordecai foi agendada para o dia seguinte, antes que Hamã comparecesse ao banquete.

O rei não conseguia dormir

No começo do capítulo 6, ficamos sabendo que o rei, a quem o cetro fora concedido, não estava conseguindo dormir à noite. Se o rei tivesse conseguido dormir, Mordecai provavelmente teria sido executado e Hamã teria conseguido agir com autoridade. Mas Deus não havia planejado as coisas assim. Primeiro era necessário que Mordecai fosse poupado, e que o orgulhoso Hamã fosse humilhado e preparado para sua própria execução.
Quando foram lidas as crônicas diante do rei insone, achou-se escrito que certa vez Mordecai tinha salvado a vida de Assuero. Então o rei perguntou: “Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso?” (Ester 6.3). Semelhantemente aos nossos dias, esse fato havia-se perdido em meio à burocracia do reino: “Nada lhe foi conferido” (v. 3), foi a resposta do servo.
Nesse caso, a insônia fez com que o rei ficasse alerta. Ele não agiu irracional e irresponsavelmente como fez quando deu ouvidos ao argumento de Hamã a respeito da aniquilação do povo judeu.
Uma observação pessoal: talvez a solução para sua insônia não esteja em remédios, visitas a médicos ou terapeutas. Pode ser que a hora da sua insônia seja um tempo em que Deus deseja falar com você. Sei que muitos sofrem de uma ou mais das inúmeras causas físicas ou emocionais que podem causar insônia. Mas em certas ocasiões não há razão para ela; você simplesmente não consegue dormir. Essa é uma hora ideal para se ocupar com o seu Criador; abra o livro, o Seu livro, e perceba que Ele salvou a sua vida. Você escapou de uma eternidade perdida e sem Deus para a presença na mansão real. Que honra foi dada a Ele que lhe salvou? Ele fez com que nossas Bíblias fossem escritas para que pudéssemos entender Suas intenções. Em suas páginas você encontrará uma declaração de amor: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Você já ofereceu uma resposta a essa oferta? Se ainda não, faça-o hoje.
Você já leu a acusação que Jesus fez às pessoas de Jerusalém: “Nunca lestes nas Escrituras...?” (Mateus 21.42)? Você quer saber sobre o futuro? Use a sua insônia para ler mais sobre ele e então reaja ao que tiver lido através de uma conversa com Jesus. Ninguém nunca orou tanto como Jesus; Ele passava noites inteiras em oração. Durante Seus últimos dias, Ele teve que repreender Seus discípulos: “Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?” (Mateus 26.40). Pode muito bem ser que Deus providenciará essa insônia para que você tome uma posição sacerdotal em favor daqueles que estão por perecer. Vidas estão em jogo! Conforme Apocalipse 1.6, Jesus, “nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai”. Seja como a rainha Ester, que estava pronta a abrir mão de sua vida para ir à presença do rei e interceder sacerdotalmente pelo seu povo. Você fará isso hoje?
Hamã levou Mordecai montado em um dos cavalos do rei, elogiando-o em alta voz, para todos ouvirem.

A confiança que o rei tinha em Hamã era impressionante. Parece que, coincidentemente, Hamã estava no átrio do palácio do rei, pronto para pedir permissão para enforcar Mordecai na forca que já havia preparado. Naquele exato momento, o rei o chamou e perguntou: “Que se fará ao homem a quem o rei deseja honrar?” (Ester 6.6). Com presunção, cegueira espiritual e o coração cheio de ódio, Hamã só conseguia pensar que ele era esse homem a quem o rei tinha o desejo de honrar. Por isso, disse sem hesitar: “tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o cavalo em que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a cavalo pela praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar” (Ester 6.8-9). O rei sabia que Mordecai era judeu? Ele sabia que Hamã o odiava? A ordem do rei para Hamã foi a pior coisa que lhe poderia ter acontecido. Ele estava tão confiante em sua vitória que o orgulho lhe subiu à cabeça. Agora, porém, ele teria que desfilar pela cidade falando para as pessoas que Mordecai era o homem que o rei se alegrava em honrar. Os cidadãos de Susã estavam indubitavelmente confusos. Eles ficaram chocados com a proclamação de que todos os judeus deveriam ser mortos em determinado dia. Certamente eles sabiam que tinha sido Hamã quem havia expedido tal ordem. No entanto, agora ele estava levando Mordecai montado em um dos cavalos do rei, elogiando-o em alta voz, para todos ouvirem.
Assim que retornou ao palácio, “Hamã se retirou correndo para casa, angustiado e de cabeça coberta” (Ester 6.12). Aí ele recebeu notícias ainda piores: “Então, os seus sábios e Zeres, sua mulher, lhe disseram: Se Mordecai, perante o qual já começaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele; antes, certamente, cairás diante dele” (Ester 6.13). Com certeza, o povo de Susã já estava familiarizado com os judeus. Eles viviam juntos na mesma cidade que abrigava as sinagogas onde os judeus se reuniam. Eles trabalhavam para se sustentar. Alguns eram bem-sucedidos e contratavam outros, criando empregos. Não temos razão nenhuma para acreditar que os judeus daquela época em Susã eram diferentes dos de hoje. A frase “Se Mordecai... é da descendência dos judeus...”, indica que eles eram respeitados e conhecidos pela sua adoração ao Deus invisível e pelo estudo da Sua Palavra.
Hamã havia articulado uma estratégia infalível, e a aniquilação dos judeus estava certa; apenas um curto período de tempo os separava da vida e da morte. Eles também sabiam que a lei outorgada pelo rei não poderia ser revogada. Uma vez que a lei fora sancionada com o selo real, ela tinha que ser aplicada. Isso indica claramente que o governo medo-persa era de qualidade muito superior às formas de governo que temos hoje. Agora, os políticos podem prometer muitas coisas aos seus eleitores, mas quando são eleitos eles não são obrigados, por lei, a manter suas promessas. Portanto, compreendemos que das quatro potências gentílicas – Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma – a última é a inferior. No livro de Daniel, capítulo 2, vemos a composição das quatro potências mundiais: Babilônia, representada pelo ouro; Medo-Pérsia, prata; Grécia, cobre; e Roma, ferro e barro. Portanto, a inferioridade de todos os governos após a Babilônia e a Medo-Pérsia é evidente.
Hamã nem tinha bem terminado de ouvir as terríveis notícias de sua própria esposa e de seus conselheiros quando uma mensagem urgente do rei o interrompeu: “Falavam estes ainda com ele quando chegaram os eunucos do rei e apressadamente levaram Hamã ao banquete que Ester preparara” (Ester 6.14).

Hamã é desmascarado

Esse banquete privado que a rainha Ester havia preparado era realmente muito especial. O convidado de honra era Hamã, e pela terceira vez o rei perguntou: “Qual é a tua petição, rainha Ester?” (Ester 7.2). Aí, outra revelação devastadora foi feita: “Então, respondeu a rainha Ester e disse: Se perante ti, ó rei, achei favor, e se bem parecer ao rei, dê-se-me por minha petição a minha vida, e, pelo meu desejo, a vida do meu povo. Porque fomos vendidos, eu e o meu povo, para nos destruírem, matarem e aniquilarem de vez; se ainda como servos e como servas nos tivessem vendido, calar-me-ia, porque o inimigo não merece que eu moleste o rei” (Ester 7.3-4). O rei Assuero, que havia depositado sua total confiança em Hamã, aparentemente não tinha investigado coisa alguma sobre as origens da rainha Ester. Ele não sabia que ela era judia. “Então, falou o rei Assuero e disse à rainha Ester: Quem é esse e onde está esse cujo coração o instigou a fazer assim?” (Ester 7.5). De forma triunfante, Ester havia chegado ao ponto final de seu plano. Essa frágil e bonita mulher, que arriscou sua vida para salvar seu povo, agora tinha a atenção do rei, a maior autoridade naquela terra. “Respondeu Ester: O adversário e inimigo é este mau Hamã. Então Hamã se perturbou perante o rei e a rainha” (Ester 7.6).
“Hamã, porém, ficou para rogar por sua vida à rainha Ester, pois viu que o mal contra ele já estava determinado pelo rei” (Ester 7.7).

Hamã tinha toda a razão de estar com medo. Agora esse homem, que antes fora tão ousado e corajoso, revelou-se um covarde: “Hamã, porém, ficou para rogar por sua vida à rainha Ester, pois viu que o mal contra ele já estava determinado pelo rei” (Ester 7.7). O fim de Hamã tinha chegado; não havia mais chance para misericórdia: “Tendo o rei dito estas palavras, cobriram o rosto de Hamã” (Ester 7.8). Um homem condenado não poderia mais olhar para a face do rei. A forca que Hamã havia construído para matar Mordecai, o judeu, tornou-se instrumento de sua própria execução: “Enforcaram, pois, Hamã na forca que ele tinha preparado para Mordecai. Então, o furor do rei se aplacou” (Ester 7.10).

O último pedido da rainha Ester

Hamã foi executado e Mordecai foi exaltado. Contudo, os problemas do povo judeu no reino ainda não estavam resolvidos.
Novamente, Ester arriscou sua vida: “Falou mais Ester perante o rei e se lhe lançou aos pés; e, com lágrimas lhe implorou que revogasse a maldade de Hamã, o agagita, e a trama que havia empreendido contra os judeus” (Ester 8.3). Novamente, “estendeu o rei para Ester o cetro de ouro...” (Ester 8.4). Esse era o sinal da graça, e agora ela poderia novamente apresentar seu caso em favor do seu povo: “...escreva-se que se revoguem os decretos concebidos por Hamã, filho de Hamedata, o agagita, os quais ele escreveu para aniquilar os judeus que há em todas as províncias do rei” (Ester 8.5). Mas havia um problema: o rei não poderia conceder esse último desejo à rainha Ester. A lei daquela terra era irrevogável. Uma vez que o rei havia autorizado e selado referida lei com seu anel, ela não poderia ser revertida, “...porque os decretos feitos em nome do rei e que com o seu anel se selam não se podem revogar” (Ester 8.8).
Isso deve nos lembrar das eternas leis de Deus. Quando o Senhor avisou a Adão que ele morreria se comesse do fruto proibido, essa Lei não poderia ser revogada. Daquele dia em diante, cada pessoa na face da terra estava destinada a morrer, desde o momento de seu nascimento. Não existe possibilidade de se revogar uma Lei Eterna de Deus. Portanto, qualquer um que quiser viver sob a Lei, nunca terá a chance de ter a vida eterna. Para podermos escapar da morte eterna, precisamos aprender uma nova Lei. Essa Lei é baseada em uma outra Lei, estabelecida pelo Filho de Deus. João 3.36 diz: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. Esse é o ponto principal da mensagem da Bíblia: a fé no sacrifício substituto do Filho de Deus nos coloca sob a jurisdição de uma nova Lei, a Lei do amor. A morte certamente está sob a Lei antiga; contudo, essa sentença de morte já foi executada sobre o Senhor Jesus Cristo, que pagou pelas nossas transgressões em sua totalidade. Qualquer tentativa em manter leis estabelecidas por assembléias, em guardar certos dias santos ou o sábado, a fim de se obter a justificação, é vã. Nada disso levará à salvação eterna, mas sim à condenação. A Bíblia diz claramente: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da Lei, para praticá-las. E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)” (Gálatas 3.10-13).
No caso da rainha Ester, vemos que uma nova lei teria que ser escrita: “Então, foram chamados, sem detença, os secretários do rei, aos vinte e três dias do mês de sivã, que é o terceiro mês. E, segundo tudo quanto ordenou Mordecai, se escreveu um edito para os judeus, para os sátrapas, para os governadores e para os príncipes das províncias que se estendem da Índia à Etiópia, cento e vinte e sete províncias, a cada uma no seu próprio modo de escrever, e a cada povo na sua própria língua; e também aos judeus segundo o seu próprio modo de escrever e a sua própria língua” (Ester 8.9). Qual era o conteúdo dessa lei? “...o rei concedia aos judeus de cada cidade que se reunissem e se dispusessem para defender a sua vida, para destruir, matar e aniquilar de vez toda e qualquer força armada do povo da província que viessem contra eles, crianças e mulheres e que se saqueassem os seus bens” (Ester 8.11).
Quem eles iriam destruir? Que propriedade eles saqueariam? Anteriormente, vimos que os inimigos dos judeus se identificaram pelos preparativos que estavam fazendo para a sua destruição. Tenho certeza que os judeus sabiam exatamente onde moravam seus inimigos. A lei anterior, redigida por Hamã, havia causado a identificação de tais inimigos.
Um evento similar aconteceu quando Israel estava sob o jugo de Faraó. Depois que Moisés requisitou a liberação do povo, Faraó se recusou a deixá-lo partir e ordenou que os israelitas fossem pelo campo e ajuntassem sua própria palha. Assim fazendo, eles se familiarizaram com os vizinhos egípcios, suas casas, e também o conteúdo destas. Então, quando chegou a hora do êxodo, eles foram até a casa daquelas pessoas e pegaram seus bens mais valiosos.
Os judeus ainda tinham uma sentença de morte pairando sobre suas cabeças, mas também tinham uma nova lei selada pelo rei: “No dia treze do duodécimo mês, que é o mês de adar, quando chegou a palavra do rei e a sua ordem para se executar, no dia em que os inimigos dos judeus contavam assenhorear-se deles, sucedeu o contrário, pois os judeus é que se assenhorearam dos que os odiavam; porque os judeus, nas suas cidades, em todas as províncias do rei Assuero, se ajuntaram para dar cabo daqueles que lhes procuravam o mal; e ninguém podia resistir-lhes, porque o terror que inspiravam caiu sobre todos aqueles povos. Todos os príncipes das províncias, e os sátrapas e os governadores, e os oficiais do rei auxiliavam os judeus, porque tinha caído sobre eles o temor de Mordecai” (Ester 9.1-3).
O livro de Ester.

A rainha Ester arriscou sua vida. Ela estava disposta a sacrificar-se por seu povo e passou a ser a principal personagem envolvida na salvação física da raça judaica. Seu primo Mordecai foi elevado à realeza: “Então, Mordecai saiu da presença do rei com veste real azul-celeste e branco, como também com grande coroa de ouro e manto de linho fino e púrpura; e a cidade de Susã exultou e se alegrou” (Ester 8.15). É importante observar o resultado dessa elevação de Mordecai: “Sucedeu isto no dia treze do mês de adar; no dia catorze, descansaram e o fizeram dia de banquetes e de alegria” (Ester 9.17). É assim que o Senhor trabalha. Em meio à fraqueza, Ele demonstra Sua força; em meio ao desespero, Ele dá eterna segurança. E através da morte, Ele traz a vida eterna. Nenhuma campanha, protesto organizado ou resistência teria ajudado os judeus durante o reinado de Assuero. Apenas a resolução firme da rainha Ester em arriscar a sua vida fez a diferença.
Quando o Evangelho é pregado em verdade, como foi o caso da igreja primitiva em Jerusalém, o Senhor age. Lemos em Atos 2.42-43,46-47: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”.
Na igreja primitiva eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos”. Novamente, não lemos nada sobre qualquer tipo de marchas de protesto, oposição contra o governo, ou de luta contra todos os tipos de maldade social. Porém, a verdadeira dedicação dos crentes ao Evangelho fez com que tivessem o favor do povo. Eles não eram respeitados por sua posição social, mas por causa da sua simples fé, obedecendo ao que o Senhor havia ordenado, pregando o Evangelho a todas as pessoas em todo lugar.
No desenvolvimento da igreja primitiva, nada lemos sobre cruzadas especiais ou grandes eventos ecumênicos, mas sim sobre a adesão à doutrina dos apóstolos. A última frase diz: “...acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”. Essa é a chave para a evangelização nos últimos dias. É de suma importância fazermos a vontade de Deus. Quando formos obedientes a Deus e nos dispusermos a nos sacrificar pela causa do Evangelho, verdadeiramente o Senhor acrescentará à Igreja diariamente os que forem salvos.
Até o dia de hoje, a festa de Purim é celebrada em Israel e nas casas dos judeus em todo o mundo.

A instituição da festa de Purim

Até o dia de hoje, a festa de Purim é celebrada em Israel e nas casas dos judeus em todo o mundo. É a celebração da vitória da rainha Ester sobre Hamã, o inimigo dos judeus: “Mordecai escreveu estas coisas e enviou cartas a todos os judeus que se achavam em todas as províncias do rei Assuero, aos de perto e aos de longe, ordenando-lhes que comemorassem o dia catorze do mês de adar e o dia quinze do mesmo, todos os anos, como os dias em que os judeus tiveram sossego dos seus inimigos, e o mês que se lhes mudou de tristeza em alegria, e de luto em dia de festa; para que os fizessem dias de banquetes e de alegria, e de mandarem porções dos banquetes uns aos outros, e dádivas aos pobres. Assim, os judeus aceitaram como costume o que, naquele tempo, haviam feito pela primeira vez, segundo Mordecai lhes prescrevera; porque Hamã, filho de Hamedata, o agagita, inimigo de todos os judeus, tinha intentado destruir os judeus; e tinha lançado o Pur, isto é, sortes, para os assolar e destruir. Mas, tendo Ester ido perante o rei, ordenou ele por cartas que o seu mau intento, que assentara contra os judeus, recaísse contra a própria cabeça dele, pelo que enforcaram a ele e a seus filhos. Por isso, àqueles dias chamam Purim, do nome Pur. Daí, por causa de todas as palavras daquela carta, e do que testemunharam, e do que lhes havia sucedido” (Ester 9.20-26). (Arno Froese - http://www.beth-shalom.com.br)
"Uma estrela procederá de Jacó" (Nm 24.17).
"Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã" (Ap 22.16).
Um olhar para o céu estrelado nos transmite a respeitosa convicção da existência de um grandioso mundo celestial. É a fascinação do sobrenatural: o que existe por detrás das galáxias? Não é de admirar que os homens sempre tenham tentado desvendar os segredos divinos, quer seja por meio de pesquisas científicas ou de interpretações especulativas do futuro.
E eis que surge essa estranha história de uma estrela de Natal especial, a estrela de Jacó. Se esse acontecimento não estivesse descrito na Bíblia, poderíamos considerá-lo uma história oriental inventada. Mas ele sempre nos leva a admirar a ação sábia e soberana de Deus e a ver que até os Seus inimigos têm de servi-lO. O Senhor escarnece dos que tentam colocar-se em Seu caminho, pois "Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles" (Sl 2.4).
Israel se encontrava em sua peregrinação de 40 anos pelo deserto. Seu caminho em direção à terra prometida poderia ter levado diretamente ao norte pela chamada estrada real, através da terra de Moabe. Mas Balaque, o rei moabita, queria de todas as formas impedir que Israel passasse por seu país. Ele temia o povo judeu, pois havia ouvido dizer que eles tinham um Deus poderoso. Por isso, ele não se arriscou a um confronto militar com esse povo nômade. E assim tentou impedi-lo de prosseguir com um truque oculto, mágico, mandando buscar o adivinho Balaão de Petor, na Mesopotâmia. Esse Balaão não era um homem qualquer, mas um respeitado, renomado e perigoso feiticeiro, cujas maldições tinham conseqüências fatais. E ele recebeu a incumbência de lançar mau agouro sobre o povo judeu e amaldiçoá-lo. Que tolice tentar atrapalhar o plano de Deus! O rei Balaque mandou chamar Balaão: "Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois é mais poderoso do que eu; para ver se o poderei ferir e lançar fora da terra, porque sei que a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado" (Nm 22.6). Será que nós temos tal confiança ilimitada no Deus Todo-Poderoso como esse rei pagão a tinha no adivinho que mandou chamar?
Quem se envolve com Israel deveria saber que vai lidar com esse seu Deus protetor. Isso foi experimentado, por exemplo, por Faraó, por Hamã, por Nasser e por Hitler. Arafat e seus cúmplices poderiam aprender pela História sem muito esforço. Pois a Palavra de Deus continua válida para hoje e para sempre: "...aquele que tocar em vós toca na menina do seu olho" (Zc 2.8b).
Para legitimar a pretensão de Balaque, Balaão mandou erigir altares onde foram sacrificados novilhos e carneiros, e isso por três vezes em três cumes de montes diferentes. Que desprezo e desconhecimento do sacrifício legítimo, agradável a Deus! Satanás é o imitador da ação divina.
Embaixo, no fundo do vale, encontrava-se o enorme acampamento de Israel sob a mão protetora de Deus. A ordem do rei Balaque ao amaldiçoador Balaão foi bem concreta: "vem, amaldiçoa-me a Jacó, e vem, denuncia a Israel" (Nm 23.7). Balaão, chegou a sua hora! Com olhar extasiado, visionário, e voz profeticamente clara, ele anunciou: "Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro que ferirá as têmporas de Moabe e destruirá todos os filhos de Sete" (Nm 24.17). E acrescentou: "...Israel fará proezas. De Jacó sairá o dominador e exterminará os que restam das cidades", e: "Ai! Quem viverá, quando Deus fizer isto?" (Nm 24.18-19,23).
Que pavor! O plano de Balaque foi transformado exatamente no contrário do que ele queria. À clara luz do dia, Balaão viu profeticamente a estrela de Jacó. O mestre feiticeiro foi obrigado, contra sua própria vontade, a servir de instrumento de Deus para proclamar bênção sobre Israel ao invés de maldição, e para anunciar o plano divino de salvação! A seguir, lemos o relato objetivo e sóbrio: "Então, Balaão se levantou, e se foi, e voltou para a sua terra; e também Balaque se foi pelo seu caminho" (Nm 24.25). Dois humilhados, dois grandes transformados em pequenos, bateram em retirada depois de colidirem com a vontade de Deus!
A profecia de Balaão sobre a estrela de Jacó começa com as palavras: "Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto" (Nm 24.17). Evidentemente ele ainda não podia reconhecer sobre quem falava essa profecia, pois 1.500 anos o separavam de seu cumprimento. O mesmo também aconteceu com Agur, que chegou aos limites dos céus com suas perguntas, quando questionou: "Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?" (Pv 30.4). Isso é profecia encoberta. Pois a prova da veracidade de uma profecia é sempre unicamente o seu cumprimento. Mas o que a Bíblia diz sobre o futuro jamais estará sujeito a engano. A estrela de Jacó é uma promessa de domínio teocrático que se estende até o Milênio: "De Jacó sairá o dominador" (Nm 24.19).
No proto-evangelho (Gênesis 3.15), Ele foi prometido pelo próprio Deus: da semente da mulher viria o Salvador. E no meio do Plano de Salvação Ele realmente apareceu em figura humana: "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gl 4.4).
Depois, foi a estrela de Belém que, sob orientação divina, mostrou aos magos do Oriente o caminho até o Rei dos judeus: "Vimos sua estrela no Oriente", disseram eles ao rei Herodes. E em Belém finalmente acharam a estrela de Jacó. Eles não ficaram decepcionados por encontrarem uma criança na manjedoura. O fato de tê-la adorado prova que reconheceram a Sua glória majestosa através do Espírito de Deus. O simbolismo dos presentes: o ouro, o metal nobre mais precioso, é o presente apropriado para reis. Apocalipse 19.16 diz: "Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores." O incenso é necessário ao ministério sacerdotal. A respeito lemos em Hebreus 9.11: "veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados." A mirra é uma erva amarga, que simboliza a morte. Em 1 Coríntios 15.3 está escrito: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras." Se já nesses acontecimentos surpreendentes, por ocasião do nascimento de Jesus, o grandioso amor de Deus se tornou manifesto, quanto mais razão temos nós hoje em dar-Lhe o nosso amor por inteiro e nossa entrega total!
A alegria singela de uma criança ao ver a estrela de Belém, a fascinação dos cientistas ao calcularem o "encontro", ou seja, a conjunção de Júpiter e Saturno, etc., mostram: pequenos e grandes devem saber que tudo acontece conforme um plano divino exato!
Mas quem consegue explicar astronomicamente Mateus 2.9, onde está escrito: "e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino"? Não há problema: o Senhor da glória, que guiou a Israel em sua peregrinação pelo deserto com uma nuvem e uma coluna de fogo, também tinha um meio à disposição para dirigir os magos do Oriente com precisão exata ao local do nascimento de Jesus! "" profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!" (Rm 11. 33).
A estrela de Jacó é Jesus, o judeu. Apocalipse 5.5 diz: "eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos." Ele tem todo o poder no céu e na terra. Ele é a coroa de Israel. E para nós vale que "a salvação vem dos judeus", isto é, de entre os judeus. Não foi o povo judeu que nos trouxe a salvação, foi do povo judeu que nasceu o nosso Salvador. Que grande tolice é ser anti-semita! Ainda mais, trata-se de um pecado contra Deus, contra Jesus e Seu povo. Jesus não foi palestino, como afirmou Arafat. Dizendo isso, ele promoveu uma falsificação da História. Sobre Belém não brilha mais uma estrela, mas a meia-lua islâmica. Jesus foi morto na cruz. Mas nenhum poder das trevas pode obscurecer a estrela de Jacó ou apagá-la! "Eu, Jesus... Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã" (Ap 22.16). O Filho de Deus ressuscitado testemunha que brilhará de maneira a trazer salvação por toda a eternidade, para Israel e para a Igreja de Jesus. Com Jesus começou uma nova e clara manhã de graça, pois Ele disse: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida" (Jo 8.12). O Natal não é de maneira alguma o romantismo emocional que sempre nos é transmitido, mas precisa produzir continuamente em nossos corações uma separação entre luz e trevas. Se não chegarmos à luz com a escuridão de nossos corações, continuaremos a ser pecadores perdidos mesmo após o Natal. Que torrente de amor procede do coração paterno de Deus, que não nos entregou à perdição, mas quer nos levar à clara e brilhante luz de Sua graça! A Palavra nos conclama: "Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração" (2 Pe 1.19).(Burkhard Vetsch)
A Estratégia Mundial de Satanás
Deus entregou à humanidade o domínio sobre a terra e estabeleceu a teocracia como a forma de governo original deste mundo (Gn 1.26-29). Numa teocracia, o governo divino é administrado por um representante. Deus designou o primeiro homem, Adão, para ser Seu representante. Adão recebeu a responsabilidade de administrar o governo de Deus sobre a parte terrena do Reino universal de Deus.
Pouco tempo depois de ter dado esse poder ao homem, Satanás induziu Adão e Eva a se aliarem a ele em sua revolta contra Deus (Gn 3.1-13). Como resultado, a humanidade afastou-se de Deus e a teocracia desapareceu da face da terra. Além disso, com a queda de Adão, Satanás usurpou de Deus o governo do sistema mundial. A partir de então, ele e suas forças malignas passaram a governar o mundo. Conforme veremos a seguir, muitos fatores revelam essa terrível transição.
O reinado de Satanás sobre o mundo tem ocorrido de forma invisível, incentivando o surgimento de cosmovisões e filosofias contrárias à verdadeira realidade.

A Negação da Revelação Divina

O diabo tinha autoridade para oferecer o domínio sobre o sistema do mundo a quem ele quisesse, inclusive a Jesus Cristo, pois essa autoridade lhe tinha sido entregue por Adão (veja Lc 4.5-6). Foi por isso que Jesus chamou Satanás de “príncipe [literalmente, governador] do mundo” (Jo 14.30). João disse que o mundo inteiro jaz no maligno (1 Jo 5.19) e Tiago declara que todo aquele que é amigo do atual sistema mundano é inimigo de Deus (Tg 4.4).
Até este ponto de nossa história, o reinado de Satanás sobre o mundo tem ocorrido de forma invisível. Trata-se de um domínio espiritual que incentiva o surgimento de cosmovisões e filosofias contrárias à verdadeira realidade. As Escrituras nos ensinam que, no futuro, Satanás irá tentar converter esse domínio espiritual e invisível em um reino político, visível e permanente – dominando o mundo inteiro. Para alcançar seu objetivo, Satanás precisa induzir a humanidade a buscar a unificação sob um governo mundial. Ele também tem de condicionar o mundo a aceitar um governante político supremo que terá poderes únicos e fará grandes declarações a respeito de si mesmo.
Utilizando-se da tendência secular e humanista da Renascença e de algumas ênfases propagadas pelo Iluminismo, o diabo conseguiu minar a fé bíblica de porções importantes do protestantismo e também determinadas crenças do catolicismo romano e da Igreja Ortodoxa. O resultado foi que, no final do século XIX e no início do século XX, o mundo começou a ouvir que a humanidade nunca havia recebido a revelação divina da verdade.
No entanto, o único modo pelo qual a existência de Deus, Sua natureza, idéias, modos de agir, ações e relacionamento com o Universo, com a Terra e com a humanidade podem ser conhecidos é através da revelação divina da verdade. Por isso, a negação dessa revelação fez com que durante o século XX muitas pessoas concluíssem que o Deus pessoal, soberano e criador descrito na Bíblia não existe; ou, se existe, que Ele é irrelevante para o mundo e para a humanidade.
Essa negação da revelação divina da verdade resultou em mudanças dramáticas, que tiveram graves conseqüências na sociedade e no mundo. Em primeiro lugar, ela levou muitas pessoas ao desespero. Deus criou os seres humanos com a necessidade de terem um relacionamento pessoal com Ele, para conhecerem o sentido e propósito supremos desta vida. A declaração de que Deus não existe ou é irrelevante provocou um vazio espiritual dentro das pessoas. Esse vazio levou ao desespero e à extinção da perspectiva de alcançar o sentido e propósito supremos desta vida. Satanás, então, ofereceu a bruxaria, o espiritismo, o satanismo, outras formas de ocultismo, a astrologia, o misticismo oriental, os conceitos da Nova Era, as drogas, algumas formas de música e outros substitutos demoníacos para preencher esse vazio e fazer com que as pessoas sejam influenciadas por ele.
A declaração de que Deus não existe ou é irrelevante provocou um vazio espiritual dentro das pessoas.

A Negação dos Absolutos Morais

A negação da revelação divina da verdade resultou também na negação dos absolutos morais. O argumento mais usado é: se os padrões morais não foram revelados por um Deus soberano que determinou que os indivíduos são responsáveis por suas ações, então os absolutos morais tradicionalmente aceitos foram criados pela humanidade. Assim sendo, uma vez que a humanidade é a fonte desses absolutos, ela tem o direito de rejeitar, mudar ou ignorá-los.
O resultado dessa racionalização falaciosa é que a sociedade acabou testemunhando uma tremenda decadência moral. Ela passou a rejeitar a idéia de que apenas as relações heterossexuais e conjugais são moralmente corretas, passando a desprezar e ameaçar cada vez mais os que defendem essa idéia. Movimentos estão surgindo em todo o mundo para redefinir legalmente o conceito de matrimônio e para forçar a sociedade a aceitar essa nova idéia, a abolir ou reestruturar a família e proteger a propagação da pornografia.
O assassinato de seres humanos parcialmente formados (aborto) já foi legalizado em muitos países. Algumas pessoas ainda insistem em dizer que não existe questão moral nenhuma envolvida no suicídio assistido, na clonagem humana e na destruição de embriões humanos em nome da pesquisa de células-tronco. O assassinato e a mentira passaram a ser aceitos como norma. Essa falência moral ameaça as próprias bases da nossa sociedade.

A Negação da Verdade Objetiva e de Seus Padrões

A negação da revelação divina da verdade resultou na conclusão de que não existe uma verdade objetiva que seja válida para toda a humanidade. Cada indivíduo seria capaz de determinar por si mesmo o que é a verdade. Assim sendo, aquilo que é verdade para uma pessoa não é, necessariamente, verdadeiro para outra. A verdade passou a ser algo subjetivo e relativo.
A racionalização nos levou à conclusão de que não há padrão objetivo pelo qual uma pessoa seja capaz de avaliar se algo está certo ou errado. Agora ninguém mais pode dizer legitimamente a outra pessoa que algo que ela está fazendo é errado. Seguindo essa racionalização, nunca se deve dizer a outra pessoa que seu modo de vida é errado, mesmo que, vivendo dessa maneira, ela possa morrer prematuramente. Também não será permitido que alguém diga a um adolescente que o sexo não deve ser praticado antes do casamento. Afinal de contas, ninguém tem o direito de impor seus conceitos de certo ou errado sobre os outros.
Satanás ofereceu a bruxaria, o espiritismo, o satanismo, outras formas de ocultismo, a astrologia, o misticismo oriental, os conceitos da Nova Era, as drogas, algumas formas de música e outros substitutos demoníacos para preencher o vazio espiritual e fazer com que as pessoas sejam influenciadas por ele.

Essa negação da verdade objetiva e do padrão objetivo de certo e errado é propagada através de uma “redefinição de valores” promovida por escolas, por universidades, pela mídia, pela internet, por várias publicações, por alguns tipos de música e pela indústria do entretenimento como um todo. Algumas universidades, inclusive, já adotaram uma política que abafa qualquer expressão do que é certo ou errado por parte de seus alunos e professores. Esse tipo de atitude resulta em censura e intolerância.
A negação da verdade objetiva e dos padrões objetivos de certo e errado motivaram alguns a defenderem que os pais devem ser proibidos de bater nos filhos quando estes fizerem algo que os pais acreditam ser errado.

A Redefinição da Tolerância

Isso tudo também resultou em um movimento que visa forçar a sociedade a aceitar um novo conceito de tolerância. A visão histórica da tolerância ensinava que as pessoas de opiniões e práticas diferentes deveriam viver juntas pacificamente. Cada indivíduo tinha o direito de acreditar que a opinião ou prática contrária à sua estava errada e podia expressar essa crença abertamente, mas não podia ameaçar, aterrorizar ou agredir fisicamente aqueles que discordavam dele.
Porém, a tolerância passou por uma redefinição. O novo conceito diz que acreditar ou expressar abertamente que uma opinião ou prática de uma pessoa ou de um grupo é errada equivale a um “crime de ódio” e, portanto, deve ser punido pela lei. Grupos poderosos estão pressionando o Congresso americano, por exemplo, para fazer com que esse novo conceito torne-se lei. Isso ocorrerá se for aprovado o que passou a ser conhecido como “lei anti-ódio”. Uma vez que nos EUA já existem leis contra ameaças ou prejuízos físicos causados a pessoas ou grupos de opiniões e práticas distintas, é óbvio que o objetivo desse projeto é tornar ilegal a liberdade de crença e de expressão. Se esse projeto for aprovado, os EUA passarão a ser mais um Estado totalitário, comparado àqueles que adotaram a Inquisição e o comunismo. [Tendências semelhantes se verificam na maior parte dos países ocidentais – N.R.]
Já que o mundo foi levado a acreditar que não há verdade objetiva válida para toda a humanidade e nenhum padrão objetivo que sirva para verificar se algo está certo ou errado, cada vez mais defende-se a idéia de que todos os deuses, religiões e caminhos devem ser aceitos com igualdade. Por isso, todas as tentativas de converter pessoas de uma religião para outra devem ser impedidas e as afirmações de que existe apenas um Deus verdadeiro, uma religião verdadeira e um único caminho para o céu são consideradas formas visíveis de preconceito. O pluralismo religioso está se tornando lugar-comum hoje em dia.
Se não há nenhum padrão objetivo para determinar o certo e o errado, então qual base uma sociedade ou um indivíduo pode usar para concluir que matar é errado? Isso incluiu os assassinatos praticados por médicos que fazem abortos ou os massacres provocados por psicopatas em escolas e em lugares públicos? Pois, talvez alguns desses atos violentos sejam resultantes do fato de seus autores terem concluído que, se não existe um padrão objetivo para determinar o que é certo e o que é errado, para eles é correto assassinar.
Se essa espécie de lei anti-ódio for aprovada, ela terá conseqüências drásticas. As pessoas que virem esse tipo de lei sendo posta em prática acreditarão que esse é o caminho correto. Mas, durante as campanhas eleitorais e nas sessões legislativas, os políticos poderão fazer acusações uns aos outros ou dizer que as ações dos seus oponentes são erradas?

O Desejo de Unidade

A negação da revelação divina da verdade gerou uma crescente convicção de que o objetivo da humanidade deve ser a unidade. O Manifesto Humanista II diz:
Não temos evidências suficientes para acreditar na existência do sobrenatural. Trata-se de algo insignificante ou irrelevante para a questão da sobrevivência e satisfação da raça humana. Por sermos não-teístas, partimos dos seres humanos, não de Deus, da natureza, não de alguma deidade.[1]
O argumento prossegue:
Não somos capazes de descobrir propósito ou providência divina para a espécie humana... Os humanos são responsáveis pelo que somos hoje e pelo que viermos a ser. Nenhuma deidade irá nos salvar; devemos salvar a nós mesmos.[2]
À luz do pensamento de que a salvação da destruição total depende da própria humanidade, o Manifesto continua:
Repudiamos a divisão da humanidade por razões nacionalistas. Alcançamos um ponto na história da humanidade onde a melhor opção é transcender os limites da soberania nacional e andar em direção à edificação de uma comunidade mundial na qual todos os setores da família humana poderão participar. Por isso, aguardamos pelo desenvolvimento de um sistema de lei e ordem mundial baseado em um governo federal transnacional.[3]
Finalmente, o documento declara:
O compromisso com toda a humanidade é o maior compromisso de que somos capazes. Ele transcende as fidelidades parciais à Igreja, ao Estado, aos partidos políticos, a classes ou raças, na conquista de uma visão mais ampla da potencialidade humana. Que desafio maior há para a humanidade do que cada pessoa tornar-se, no ideal como também na prática, um cidadão de uma comunidade mundial?[4]
O assassinato de seres humanos parcialmente formados (aborto) já foi legalizado em muitos países.

A existência de instituições internacionais, como a Corte Internacional de Justiça e as Nações Unidas, os meios de transporte rápidos, a comunicação instantânea e a internacionalização crescente da economia fazem com que a formação de uma comunidade mundial unificada pareça ser possível. O tremendo aumento da violência, incluindo a ameaça de terrorismo que paira sobre todo o mundo, pode levar a civilização a uma governo mundial unificado em nome da sobrevivência.

A Deificação da Humanidade

A negação da revelação divina da verdade criou uma tendência em deificar-se a humanidade. Thomas J. J. Altizer, um dos teólogos protestantes do movimento “Deus está morto” da década de 60, alegava que, uma vez que a humanidade negou a existência de um Deus pessoal, ela deve alcançar sua auto-transcendência como raça, algo que ele chamava de “deificação do homem”.[5] O erudito católico Pierre Theilhard de Chardin ensinava que o deus que deve ser adorado é aquele que resultará da evolução da raça humana.[6]
Com tais mudanças iniciadas com a negação da revelação divina, Satanás está seduzindo o mundo para que caminhe em direção à unificação da humanidade. Ela ocorrerá quando todos estiverem sob um governo mundial único que condicionará o planeta a aceitar seu líder político máximo, o Anticristo, o qual terá poderes únicos e alegará ser o próprio Deus.
"Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus" (Levítico 26.1).
Enquanto estacionávamos nosso carro ao lado do hotel, na cidade do Juazeiro do Norte, observávamos que apesar das fortes chuvas de janeiro que tinham caído nos últimos dias, o céu azul-anil com nuvens brancas não tardou em reaparecer no Cariri cearense. Após o check-in, subimos para o primeiro andar e, ainda no corredor, caminhando em direção ao nosso apartamento, pude avistá-la ao longe, branquinha, lá no topo da Serra do Horto: era a estátua do renomado padre cuja vida estudei nas últimas quarenta madrugadas. Esse homem foi o motivo de minha esposa e eu termos viajado 615 quilômetros, do Recife até o Juazeiro do Norte, onde passamos quatro dias pesquisando junto aos seus romeiros e investigando in loco um pouco mais sobre a vida desse "santo padre do Juazeiro".
Esse sacerdote católico era de baixa estatura, pele clara, olhos azuis, acompanhado sempre de seu cajado, usava uma batina preta e um chapéu redondo da mesma cor. "Foi detentor de um fortíssimo carisma, sobre as massas populares".[1]
Quem é esse homem-ídolo? Ninguém menos do que o padre Cícero Romão Batista (1844-1934), mais conhecido por estas paragens como o "Meu Padrinho Padre Cícero", carinhosamente chamado de Padim Ciço, uma das pessoas que mais marcaram a história e a vida do povo nordestino.
Juazeiro do Norte: Santuário da Idolatria ao Padre Cícero
"Viveu menino pobre às margens do rio salgadinho, cresceu na ribanceira o homem santo de Cristo. Seu nome percorre veredas no sertão pernambucano, Alagoas, Paraíba, Sergipe e Bahia. O Ceará exalta o nome do seu filho mais querido. No altar dos santos divinos é um deus-menino jamais esquecido. E quem é ele? E quem é ele? É o padre Cícero Romão, do Juazeiro do Norte, meu padim, sua bênção!". (Trecho da canção "Deus Menino", Chico Silva).
Localizada a cerca de 540 quilômetros ao sul de Fortaleza, Juazeiro do Norte é a segunda maior cidade do Ceará, com cerca de 250 mil habitantes. Sustenta-se do turismo religioso que atrai centenas de milhares de fiéis do "santificado" Padre Cícero. Durante algumas épocas festivas, a cidade chega a receber dois milhões de romeiros, vindos de todo o Brasil, e alguns do exterior, só para ver, fazer um pedido ou adorar esse mito nordestino.
Na residência que foi do Padim Ciço, hoje transformada em Museu Padre Cícero, nossa guia turística contou-nos que o pároco costumava relatar para seus amigos mais íntimos que a cidade do Juazeiro do Norte era santa e enfeitiçada. Dizia que, caso houvesse uma guerra, um manto cobriria toda a cidade, deixando-a invisível aos olhos dos inimigos que nunca conseguiriam atacá-la. Pensei: Puxa, essa coisa de manto deixando objetos e pessoas invisíveis é típico da série Harry Potter.
Diariamente, igrejas, monumentos, praças, procissões, novenas, peregrinações e missas louvam, agradam e idolatram o "Meu Padim Padre Ciço."
Apesar da Igreja Católica não considerar o Padre Cícero Romão Batista um santo, ela não censura os milhões de devotos que o consideram um santo homem de Deus. Baseado nas missas que assisti, posso afirmar que a Igreja Católica em Juazeiro não apenas apóia, mas incentiva os romeiros a venerarem o Padrinho. Qualquer político que ousar dizer que o Padre Cícero não é santo, dificilmente será bem votado na região do Cariri.
As romarias ao Padre Cícero são vantajosas para todos. A Igreja Católica, os empresários, os políticos e todos os setores da sociedade juazeirense são beneficiados pelo grande fluxo de dinheiro trazido pelos consumidores desse sacerdote que literalmente abarrotam as ruas e praças dessa cidade.
A imagem do Padim Ciço é reverenciada e está à venda em cada esquina, seja em suvenires, fotografias, chaveiros, chapéus, esteiras, chinelos, jarros, pôsteres, cerâmicas, talhas, bolsas, broches e muitas outras bugigangas. O artesanato é uma das principais atividades do Juazeiro e também gira em torno do Padre Cícero. Encontra-se imagens do padre em miniaturas e até em tamanho natural. Elas estão em pé ao lado das portas de entrada de centenas de residências e de muitas lojas, sem mencionar as de cera no Museu Vivo.
Até os telefones públicos têm um formato de um cajado com um chapéu redondo preto. Certa noite, durante o jantar, um dos gerentes do hotel nos revelou que naquele estabelecimento havia sessenta funcionários fixos e quase trinta porcento deles tinham como seu primeiro nome Cícero ou Cícera.
Em Juazeiro do Norte até os telefones públicos lembram o seu "santo padre".

O Padre Cícero está presente em cada recôndito desta cidade, semelhante a O Grande Irmão, do clássico 1984, de George Orwell, a observar todos os habitantes.
Também vimos algumas estátuas do Padrinho Ciço espalhadas pela cidade: no alto da Serra do Horto há uma monumental, toda em concreto, de 25 metros de altura, sendo 17 metros de estátua e 8 metros de pedestal. Na então Praça Almirante Alexandrino de Alencar, hoje Praça Padre Cícero, na região central da cidade, há uma em bronze em tamanho natural (inaugurada pelo próprio Padre Cícero em 1925).[2] Na frente da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde o pároco está sepultado, há mais uma protegida por uma caixa de alvenaria com vidro na frente. No jardim diante do edifício Balcão SEBRAE há mais outra em tamanho natural...
Estátua do Padre Cícero em bronze, na Praça Padre Cícero. No quesito de monumento à sua própria pessoa, o Padre Cícero é o Saparmurad Niazov do Cariri.

No quesito de quantidade de monumentos a uma só pessoa, Juazeiro do Norte é a Ashgabat* brasileira e o Padre Cícero Romão Batista é o Saparmurad Niazov do Cariri. E no quesito de devoção cega ao seu líder espiritual, Juazeiro do Norte é a Teerã nordestina.
Vendo a cidade entregue à idolatria, pudemos sentir um pouquinho do incômodo que o apóstolo Paulo sentiu ao visitar Atenas (Atos 17.16).
As Romarias ao Juazeiro do Norte
"Do mundo inteiro vão pro Juazeiro milhares de romeiros fazer sua oração. Vão pulsar em fé e ajoelhar aos pés do Padre Cícero Romão. [...] Meu Padim Ciço, meu Padim Ciço, somos romeiros pedindo a sua bênção. Meu Padim Ciço, meu Padim Ciço, somos romeiros sofredores do sertão". (Trecho da canção "A Bênção do Padre Cícero", J. Farias e Banda e do poeta compositor João Caetano).
São várias as romarias feitas a essa "Meca" nordestina durante o ano, porém o maior fluxo de romeiros concentra-se nos meses de fevereiro, setembro e novembro. A grande leva de romeiros chega a Juazeiro de ônibus ou de caminhão pau-de-arara. Os miseráveis vêm a pé mesmo, pelas estradas esburacadas, engolindo poeira e sendo escaldados pelo sol quente do sertão. Durante as romarias, os fiéis alugam "ranchos", que são pequenos quartos com banheiro em que cabem duas pequenas camas.
Uma parte de uma das "salas de promessas". Devotos deixam objetos como gratidão ao Padrinho por bênçãos alcançadas.

A quase totalidade dos romeiros e dos juazeirenses é composta de um povo pobre e economicamente sofrido, mas que acredita que dias melhores virão e, baseado nessa esperança, continua vivendo. Esperam um milagre do Padrinho. Muitos deixam tudo o que lhes resta aos pés do Padre Cícero. "A Casa dos Milagres", ao lado da Igreja do Perpétuo Socorro, e as "Salas das Promessas" no Museu Padre Cícero são alguns dos pontos turísticos da cidade. Lá observei vários objetos e centenas de retratos deixados pelos devotos como agradecimento por supostas bênçãos alcançadas através do Padre Cícero Romão.
Muitos foram ao Juazeiro e decidiram nunca mais retornar para suas casas. Vivem hoje amontoados em barracos nas periferias dessa cidade, mas felizes por estarem próximos do seu "santo padre". Muitos humildes retornam para seus lares famintos. Dentro de suas geladeiras quebradas encontram-se caçarolas vazias, sobre os fogões a lenha apenas panelas de feijão requentado, e seus filhos estão desnutridos. Mas no próximo semestre retornarão ao Juazeiro. São esses fiéis ingênuos que alimentam e enchem os bolsos daqueles que promovem a "indústria" de Padre Cícero.
A Romaria a Nossa Senhora das Candeias
"Bendita e louvada seja a luz que mais alumeia. Valei-me meu Padrinho Ciço e a Mãe de Deus das Candeias. [...] os romeiros vão chegando e é noite de lua cheia". (Trecho da canção "Bendita e Louvada Seja", Clemilda).
Estivemos em Juazeiro durante as festividades e a romaria de Nossa Senhora das Candeias (também conhecida como Nossa Senhora da Purificação).
Uma mulher coloca temporariamente seu chapéu na cabeça de uma estátua do Padre Cícero. A outra coloca flores na mão da estátua.

A tradição judaica ensina que o filho varão deveria ser levado ao templo quarenta dias após o seu nascimento. Já a mãe, por ser considerada impura após o parto, tinha de passar por uma cerimônia de purificação. Nas procissões católicas, o povo leva candeias ou luzeiros ou velas acesas para supostamente iluminar esse trajeto de Maria levando Jesus ao templo.
Na verdade, essa história de candeias acompanhando a procissão tem sua origem na mitologia romana, mas foi incorporada à celebração da Purificação de Maria pelo Papa Gelásio I (que foi papa de 492 a 496).
A mitologia romana relata que Proserpina, filha de Ceres, foi raptada por Plutão para ser sua companheira no império dos mortos (inferno). O povo romano da Antigüidade recordava essa cena levando luzeiros para supostamente acompanhar o sofrimento da Mãe Ceres até às portas do inferno.
O dia de Nossa Senhora das Candeias é apenas mais uma festividade pagã adotada pela Igreja Católica Romana. Outros chamados "dias santos" para os católicos também têm origens pagãs, a saber: "o dia de todos os santos" e o de "finados", entre outros. Mas isso é uma outra história. Voltemos ao Padre Cícero, do Juazeiro.
Em se tratando do Juazeiro do Norte, independente do santo ou da santa conduzidos no andor, o grande homenageado acaba sempre sendo o "Meu Padim Padre Ciço".
Aos Pés da Estátua no Alto do Horto
"Olha lá, no Alto do Horto! Ele está vivo, Padim não está morto! Olha lá, no Alto do Horto! Ele está vivo, Padim não está morto! Viva meu Padim, Viva meu Padim, Ciço Romão". (Trecho da canção "Viva Meu Padim", Luiz Gonzaga).
Enquanto nos aproximávamos do início da ladeira do Horto, notamos que no cume da montanha pequenos raios surgiam com certa freqüência próximos à estátua mais famosa do Padre Cícero (no Brasil, apenas a do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e a do Frei Damião, em Guarabira, Paraíba, são mais altas do que ela).
"Que coisa estranha! E nem está chovendo!", comentei com minha esposa.
O autor subindo a Serra do Horto. Ao fundo a maior estátua do Padre Cícero.

Ao chegarmos ao estacionamento do topo, fomos rapidamente cercados por vendedores de fogos. Observamos que o que pensávamos ser raios, eram na verdade fogos:
– "O senhor tem de soltar seis fogos antes de fazer seu pedido ao santo e mais seis quando estiver indo embora", falou-me um entusiasmado vendedor enquanto nos mostrava alguns rojões de fogos.
– "Não obrigado", disse rapidamente.
– "Se o senhor desejar ou se tiver medo, pode comprar e eu solto os fogos pelo senhor. No momento dos estouros dos fogos o senhor pensa nos seus pedidos", disse-me um outro solícito vendedor.
– "Não precisa. Não quero. Muito obrigado", repliquei enquanto subia a rampa de acesso à estátua.
Algumas pessoas trajavam batinas pretas semelhantes às do Padre Cícero. Perguntei a uma delas se fazia parte de algum movimento eclesiástico ou de alguma seita. Ela me olhou estranhamente e disse que estava apenas pagando promessa.
Muitas barracas vendendo vários suvenires estavam nos dois lados da rampa que ia lotando de romeiros à medida que progredíamos. Em muitas delas eram vendidos CDs e fitas cassetes piratas com músicas de romarias e benditos, além de blusas e artesanato. O som alto das músicas, os gritos dos vendedores, o cheiro forte de frituras e rapaduras permeavam a rampa e davam um toque bem regional.
Aos pés da estátua do Padre Cícero. Fiéis dando três voltinhas ao redor do cajado da estátua.

Subimos os degraus e nos posicionamos aos pés da estátua que estava lotada de romeiros. Pessoas demonstravam sua devoção: algumas senhoras se esfregavam com as costas na parte inferior da estátua pedindo que o Padim curasse suas dores lombares. Outras suspendiam seus bebês em direção à estátua e os forçavam para que a beijassem. Muitos escreviam seus nomes na estátua enquanto choravam. Alguns rezavam ou cantavam cânticos de louvores ao Padrinho. Entre o cajado e a batina do Padre há um espaço que dá para passar uma pessoa de cada vez. O romeiro emocionado dá três voltas em torno do cajado enquanto faz seu pedido (havia uma fila enorme esperando para realizar esse ritual).
Imaginei Moisés retornando do Monte Sinai com as tábuas dos Dez Mandamentos e vendo o povo adorando um bezerro de ouro. Aquela multidão em Juazeiro e aquele povo de Israel no deserto estavam tão próximos de Deus e simultaneamente tão longe dEle. Tinham a Luz ao seu alcance, mas optaram por rituais das trevas.
Ali, aos pés da estátua não me contive e chorei discretamente para que ninguém percebesse. Enquanto isso, alguns metros adiante, havia um palanque armado onde um sacerdote católico com chapéu de palha (para se identificar melhor com os romeiros) fazia algumas colocações absurdas comparando o Padre Ciço com Jesus Cristo.
Dei a volta por trás do palanque e adentrei o Museu Vivo onde existem algumas imagens do Padim em cera, em tamanho natural, retratando cenas do seu cotidiano.
Uma sala dentro do Museu Vivo me chamou mais a atenção. Lá havia aproximadamente oito filtros de barro, com alturas que variavam de um metro a um metro e meio, e várias canecas de alumínio penduradas em um fio no teto. Muitos romeiros acreditam que a água é milagrosa e, sem qualquer receio de contrair alguma doença, pegam as canecas, enchem-nas com água do filtro, bebem e se banham com roupa e tudo. Alguns, mais criteriosos passam água nas regiões do corpo que necessitam de cura. Ao meu lado, um senhor idoso e de aparência bem humilde derramou um pouco d’água dentro da calça enquanto murmurava baixinho: "É minha próstata, Padim! É minha próstata, Padim!" Falei para ele que quando retornasse para sua cidade deveria se consultar com um bom urologista. Ele apenas me olhou abusado.
Minha esposa estava ficando bastante enauseada com tudo que viu, ouviu e cheirou. Por isso, resolvemos descer o morro e retornamos à cidade.
O Padre Cícero e o Milagre do Juazeiro
"Meu Padim Cícero, do Juazeiro, tão milagreiro, sou romeiro do sertão. Meu Padim Cícero, do Juazeiro, tão milagreiro, a minha grande devoção". (Trecho da canção "Canção de Fé", José Idelfino).
Mas, qual foi o fato que transformou um simples pároco de um pequeno povoado do interior do Nordeste em uma celebridade internacional? O "milagre" que transformou esse padre, natural do Crato, em um dos brasileiros mais biografados e comentados, aconteceu quando o mesmo tinha 45 anos.
Havia uma beata juazeirense, analfabeta e costureira de profissão, chamada Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo,[3] mas conhecida como Maria de Araújo. "Foi acometida de meningite infantil (espasmo), sofria de ataques de epilepsia, e levava uma vida de jejum, oração e trabalho humilde. Havendo bem cedo perdido os pais, foi morar ainda menina, na casa do Padre Cícero".[4]
Em uma manhã de março de 1889, quando o Padre Cícero Romão Batista pôs a hóstia na sua boca, Maria de Araújo teve um transe tão intenso que sangrou a língua e a hóstia ficou avermelhada de sangue. Esse fato se repetiu outras vezes no período de dois anos e a população local começou a espalhar a notícia de que se tratava do "derramamento do sangue de Jesus", portanto, de um milagre.
O próprio Padre Cícero comentou acerca do que ocorreu naquele dia:
"Quando dei à beata Maria de Araújo a Sagrada Forma, logo que a depositei na boca, imediatamente transformou-se em porção de sangue, que uma parte engoliu, servindo-lhe de comunhão, e outra correu pela toalha, caindo algum no chão; eu não esperava e, vexado para continuar com as confissões interrompidas que eram muitas ainda, não prestei atenção e por isso não apreendi o fato na ocasião em que se deu; porém, depois que depositei a âmbula no sacrário e vou descendo, ela vem entender-se comigo, cheia de aflição e vexame de morte, trazendo a toalha dobrada, para que não vissem, e levantava a mão esquerda, onde nas costas havia caído um pouco e corria um fio pelo braço, e ela com temor de tocar com a outra mão naquele sangue, como certa de que era a mesma hóstia, conservava um certo equilíbrio para não gotejar sangue no chão".[5]
Dentro do Museu Vivo, as estátuas em cera do Padre Cícero e da beata Maria de Araújo.

Na verdade, a beata pode ter mordido consciente ou inconscientemente a língua ou a mucosa oral e provocado o sangramento. Ou, quem sabe, ter tido uma crise convulsiva (bem provável, uma vez que tinha epilepsia) e mordido a língua? Ou uma discreta hemorragia digestiva?
É prudente deixar registrado que em outras cidades nordestinas, envolvendo personagens diferentes dos do Juazeiro, aconteceram fatos semelhantes onde a hóstia se transformou em sangue.[6] Graças a Deus, esses outros padres não tornaram-se também milagreiros e nem objetos de adoração.
Fico meditando... todo o Novo Testamento insiste em afirmar que Jesus Cristo ofereceu o Seu corpo como sacrifício e derramou o Seu sangue remissor apenas uma vez e para sempre (veja Hebreus, capítulos 9 e 10). Essa história de "vários derramamentos do sangue de Jesus Cristo" através da beata Maria de Araújo está diametralmente oposta às Escrituras Sagradas. Ou os devotos do Padre Cícero estão enganados, ou a Bíblia está errada.
Bem, o fato é que o reboliço foi tanto que o pequeno povoado transformou-se em lugar de romaria.
O bispo cearense Dom Joaquim José Vieira e até o Papa Leão XIII, em Roma, tiveram de investigar o fenômeno do Juazeiro. O Padrinho chegou a ser recebido pelo papa no Vaticano. Outros padres foram enviados ao Juazeiro e entregaram a hóstia a Maria de Araújo e nada de anormal ocorreu. O bispo cearense e o papa não reconheceram o milagre e o Padre Cícero Romão foi punido com uma suspensão.
Assim, o Padim Ciço tornou-se um santo milagreiro. Apesar de proibido de celebrar missas, sua residência passou a ser freqüentada por romeiros e por várias autoridades.
Aproveitando-se do seu prestígio, aliou-se aos grandes fazendeiros cearenses e, apoiado por eles, tornou-se prefeito do Juazeiro em 1911 e, posteriormente, vice-presidente do Ceará.
As Atuações Ambíguas do Padre Cícero Romão
"Foi a ele que muitas vezes, Lampião se ajoelhou, aos seus pés contou histórias, pediu perdão e chorou. Bendito seja o romeiro que na fé e na oração, exalta o santo padroeiro no samba, no coco, no xote e no baião". (Trecho da canção "Deus Menino", Chico Silva).
a) Amizade Com o Coronelismo
O Padim Ciço realizou boas ações para a população menos favorecida. Organizou mutirões e conseguiu construir pequenos postos de saúde, escolas e orfanatos, além de reformar e construir algumas igrejas católicas.
Por outro lado, ele era amigo do peito de vários latifundiários da região, conhecidos como "os coronéis". Esses senhores ilustres eram opressores dos pobres, marginalizavam os sertanejos, excluindo-os do direito à saúde, aos alimentos e até à vida. Pasme, o Padim Ciço pertencia a essa espécie de liga de coronéis do Ceará e a defendia . O Padim chegou a estimular seus devotos a serem mão-de-obra barata na construção de açudes e na colheita de algodão nas terras da família Acioly, a mais poderosa do Ceará.[7]
O "coronelismo" era a política exercida pelos latifundiários com prestígio político local, que tinham notável poder, mandavam na região e nos seus eleitores, que eram tratados como gado. Suas zonas eleitorais eram conhecidas como "currais eleitorais" e ai do eleitor que ousasse votar contra o candidato do "coronel".
Quando Hermes da Fonseca, então presidente da República, enviou interventores ao Ceará e depôs as oligarquias repressoras lideradas por esses coronéis, o Padre Cícero ficou irado.
Rapidamente o clero católico promoveu e assinou o chamado "pacto dos coronéis" com dezessete dos principais chefes políticos da região do Cariri, objetivando assegurar a permanência da família Acioly no governo cearense. E mais: esses fazendeiros armaram centenas de sertanejos e os enviaram à capital, porém foram detidos pelas forças federais. Esse episódio ficou conhecido na história como a "Revolta do Juazeiro".
O Padim Ciço só aquietou-se quando a velha oligarquia da família Acioly foi restabelecida ao poder. O Padre Cícero Romão foi, sem dúvida, um exemplo de fidelidade às oligarquias poderosas do Ceará.
b) Negociata com Lampião
Enquanto o Padim Ciço destacava-se no Ceará com sua influência político-religiosa, o cangaceiro Lampião e seu bando amedrontavam os poderosos dos sertões nordestinos.
O sertanejo pernambucano Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), vulgo Lampião, era também um personagem controvertido. Para muitos, era visto como um bandido que incendiava vilarejos, torturava, estuprava e matava pessoas. Para outros, era um justiceiro que tirava dos ricos para doar aos flagelados da seca. Em 1931, o jornal The New York Times chegou a chamá-lo de Robin Hood do sertão.
O "Rei do Cangaço" era devoto do Padre Cícero, do Juazeiro, e às vezes usava uma foto desse sacerdote no seu peito. A religiosidade de Lampião era alicerçada nas orações de corpo-fechado, nos santos da Igreja Católica e no Padre Cícero. No livro, Lampião, o Rei dos Cangaceiros, Chandler relata "que a vida da mulher de um policial de Jatobá, em Pernambuco, foi salva quando um velho pegou um retrato do padre do Juazeiro e o colocou entre a faca soerguida de Lampião e o seio da mulher. Lampião levava sempre consigo seus livrinhos de orações, guardava santinhos em sua carteira de dinheiro, e pregava retratos do Padre Cícero em sua roupa".[8] Isso mostra o respeito e a devoção que Lampião nutria por esse padre.
Em companhia do seu bando, Lampião costumava recitar algumas orações para, supostamente, fechar o corpo. O escritor Piragibe de Lucena, no seu livro Lampião, Lendas e Fatos, descreve algumas dessas orações. Leia um pequeno trecho de uma delas e analise a importância do Padre Cícero na vida desse cangaceiro:
"Justo juiz de Nazaré, filho da Virgem Maria, que em Belém fostes nascido entre as idolatrias. Eu vos peço senhor, pelo vosso sexto dia, e pelo amor do meu padrinho Pe. Cícero que meu corpo não seja preso, nem ferido, nem morto, nem nas mãos da justiça em volta.
Pax tecum, pax tecum, pax tecum. Cristo assim disse: aos seus inimigos, se vierem para prender-me terão olhos, não me verão, terão ouvidos, não me ouvirão. Com as armas de São Jorge, serei armado. Com a espada de Abraão, serei coberto. Com o leite da Virgem Maria, serei borrifado.
Na arca de Noé, serei arrecadado. Com a chave de São Pedro serei fechado, onde não me possam vê, nem ferir, nem matar, nem sangue do meu corpo tirar. [...]"[9]
O Padre Cícero articulou para que o cangaceiro Lampião recebesse a patente de capitão dos Batalhões Patrióticos.

Por volta de 1926, Padre Ciço já era mais político do que religioso, sendo anti-comunista de carteirinha. Aproveitando a fidelidade do bandoleiro à sua pessoa, o pároco juntou-se com seus amigos fazendeiros e doaram armas e munição para o cangaceiro e seu bando atacarem "o revoltoso" Luiz Carlos Prestes e sua famosa "Coluna". Padim Ciço também articulou para que o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchôa, que era inspetor agrícola do Ministério da Agricultura, entregasse a Lampião a patente de Capitão das Forças Patrióticas.[10],[11] Lampião não atacou a "Coluna Prestes", preferiu manter suas erranças pela caatinga. Dizem que essa foi a única vez que Lampião desobedeceu ao "santo" Padre do Juazeiro. Uma coisa é certa: Lampião ostentou com muito orgulho o título de Capitão enquanto viveu.
O curioso é que (dizem que a pedido do próprio Padim Ciço) Lampião nunca atacou os coiteiros ricos, os fazendeiros safados e os políticos corruptos do Ceará. Isso é que é amizade fiel!
Apesar da amizade do Padim Ciço com o coronelismo cearense e suas negociatas com Lampião estarem registradas em vários livros, biografias, documentários, teses e filmes, existem alguns devotos do Padrinho que negam que isso tenha acontecido. Movidos mais pela emoção do que pela razão, declaram que essas atuações ambíguas do Padre Cícero não passam de calúnias.
Convenhamos: sob o ponto de vista mundano, isso é que é saber viver! O Padim Ciço vivia de mãos dadas com Satanás e pretendia morrer nos braços de Jesus! Como se diz por estas bandas sertanejas: Eita Cabra esperto!
Padim Padre Ciço: Um Ídolo do Lar
"[...] não vos desvieis de seguir o Senhor, mas servi ao Senhor de todo o vosso coração. Não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são" (1 Samuel 12.20-21).
Ser contra a idolatria é uma unanimidade não apenas entre as igrejas cristãs genuínas, mas também ao longo de toda a Bíblia Sagrada. Todas as denominações tradicionalmente evangélicas são contra a idolatria. O judaísmo também não suporta a idolatria. Já o catolicismo prega a não-adoração a ídolos e imagens, mas na prática o que se vê é um descompasso entre o que se faz e o que se fala. Infelizmente, não é preciso ir ao Juazeiro do Norte para se constatar que a igreja do papado é verdadeiramente idólatra.
Fiéis cantam e choram ao redor de uma das camas usadas pelo Padim Ciço.

O Padim Ciço, do Juazeiro do Norte, é um ídolo nos lares de milhões de católicos. Em algumas casas, ele está presente no móvel da sala-de-estar, na penteadeira do quarto, na parede do corredor e em cima do refrigerador da cozinha. Para sermos mais honestos, o Padim Ciço, o "Santo Antônio", o "São Jorge", a "Ave Maria" e o Frei Damião (veja o artigo Misericórdia! Querem Canonizar o Frei Damião) são parte do imenso esquadrão de supostas divindades católicas presentes em milhões de residências brasileiras.
"Ídolos do lar" são coisas antigas e são mencionados logo no primeiro livro da Bíblia (Gênesis 31.19 e 30). Eles eram de vários tamanhos e alguns deles, quando colocados deitados na cama e cobertos por um manto, passavam por uma pessoa dormindo (1 Samuel 19.13). A esses ídolos, chamados em hebraico de terafins, confiava-se a guarda das casas e dos bens.
Acreditar que um "ídolo do lar" possa proteger sua família é muita presunção. Veja a história do rei Saul:
Feitiçaria e idolatria foram as gotas d’água para que Deus rejeitasse o rei Saul. O profeta Samuel sentenciou ao monarca: "Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei" (1 Samuel 15.23). Na Edição Revista e Corrigida, lê-se o nome "porfia", no lugar de "obstinação". Na Bíblia de Jerusalém (católica), "presunção" substitui "obstinação". Parafraseando esse texto, diria: a obstinação, a porfia, o orgulho, a presunção, a teima, a cabeça-dura é como a idolatria e o culto a ídolos do lar. A idolatria está incluída entre as obras da carne e não no fruto do Espírito (Gálatas 5.20).
No Velho Testamento, o primeiro e o segundo mandamentos são um "não" à idolatria (Êxodo 20.3-6). E mais: o idólatra deveria ser morto (Deuteronômio 17.1-7). Já no Novo Testamento, a punição é a morte eterna: "Quanto, porém, [...] aos idólatras [...] a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte" (Apocalipse 21.8). Entre aqueles que ficarão fora da Cidade Celestial estão os idólatras (Apocalipse 22.15).
Sem dúvida, ao nos despedirmos do Juazeiro do Norte, vendo a cidade se distanciando pelo retrovisor, pudemos entender que a idolatria é uma cegueira espiritual, mas sobretudo uma tentação bastante sedutora. A Bíblia nos alerta a resistir ao Diabo, mas também a fugir dessa tentação: "Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Coríntios 10.14).
Padre Cícero Romão Batista (1844-1934). Um dos ídolos dos lares católicos nordestinos.

Concluímos nossa visita ao Cariri cearense com os olhos marejados e uma mistura de sentimentos paradoxais: tristeza e alegria. A insatisfação é a imagem dos milhões de católicos que ainda precisam ser alcançados pela única Verdade, Jesus Cristo. A satisfação é que vimos templos de algumas denominações evangélicas nessa cidade. Esses irmãos em Cristo são como sal em uma terra espiritualmente insossa: levam a única Luz do mundo a um povo submerso nas trevas espirituais.
Irmãos, assimilemos o mesmo consolo e a mesma recomendação contida no final da Primeira Epístola de João: "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (1 João 5.20-21). (